LÁGRIMAS DE SALIVA
Suzana chorava
copiosamente há duas horas pelo fim de seu namoro de cinco anos com João Pedro,
o homem de sua vida. O único que já conheceu e a quem tudo permitiu.
Na noite passada ela
descobriu sua última infidelidade: uma colega nova do trabalho; moça bonita,
mas simplória. Uma presa fácil. Suzana fecharia os olhos para o desvio de
conduta, como fizera tantas vezes antes, afinal ele era homem e tinha suas
necessidades, como ensinara sua mãe. Entretanto desta vez havia algo diferente
na história: um anel, na verdade uma aliança.
Ele não a conhecia
nem há três meses e havia lhe dado uma aliança!
Pior: a aliança era
idêntica a que deu a Suzana dois anos antes, pois assim ele não levantaria
suspeitas com aquele anel em seu dedo. Levou dois anos para dar a ela o tão
esperado símbolo, e agora três meses para dar à outra! Quantas mais ele deve
ter dado? Deve ter algo errado com ela, só pode ser. O que será que ela não lhe
dava que ele precisava de outra? De outras? Tantas outras!
Tudo ficaria como
antes não fosse a ingênua vagabunda mandar uma foto deles juntos num motel. O
rosto dela não se vê, mas o dele sim. Não há a menor dúvida. Dela, apenas as
curvas delicadas e as pequeninas tatuagens acima do cotovelo. Usava uma
camisola idêntica a uma que ele lhe dera de presente há alguns dias! Será a mesma?
Ele seria tão repugnante assim?
Suzana sentia-se um
lixo, mas Estela, sua amiga de faculdade a confortava. Dizia que era melhor
assim: descobrir agora do que sofrer mais tarde e não conseguir se desvencilhar
de um sanguessuga de emoções. Não deveria acreditar em suas desculpas nem em
suas lágrimas de saliva, disfarçadas. Deveria agradecer por ter trocado o
telefone por um número tão parecido com o dele, a ponto da amante distraída
mandar a mensagem para o número errado e calhar de cair em suas mãos, como a
prova de que precisava para ter força suficiente para escapar dessa história
sem futuro.
O futuro, inclusive, reservava
o troco para caras como o João Pedro... O futuro, e certa garota que,
disfarçada, confortava mais uma vítima liberta dos machistas infiéis.
Seguirei acompanhando daqui a sequência desta história.
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