Ricardo acordou no meio da noite sem saber ao certo o que lhe acontecera. Estava algemado na cama de um motel barato com uma meia calça embolada em sua boca. Um cheiro forte de lubrificante íntimo por toda cama o enjoou, e a recém descoberta dormência na parte de trás de sua cintura o deixou aterrorizado.
Tentou se lembrar do que tinha acontecido ou de como chegou até ali,
entretanto só lhe veio à mente a imagem de uma figura feminina – não se
lembrava se uma jovem ou uma mulher –, mas ela tinha algo que saltou das
profundezas de sua memória para o beiral de seus olhos: aspas tatuados acima de
ambos os cotovelos. Para seu espanto e horror, na penúmbra do quarto ele as
viu: As aspas brilhando violeta no escuro perto da porta entreaberta. Ela - a
moça ou mulher - ainda estava ali, parada, sorrindo diabolicamente em escárnio.
Lançou-lhe um beijo e então partiu fechando toda a porta levando consigo a luz
do mundo.
Ele estava sozinho no escuro, humilhado e derrotado, mas sem entender
ainda a história toda. Só pensava em vingança! Iria encontrá-la e acabar com
ela! Não seria fácil descobrir qual das mulheres que usou, iludiu ou bateu
seria a responsável por esse ataque, mas ele não desistiria nunca. Assim como
nunca conseguiria esquecer a vergonha pela qual ainda iria passar quando seus
amigos entrassem naquele quarto de motel com seu bolo de aniversário para a
surpresa organizada com “a garota de programa” da vez, ou o ódio ao saber que
suas fotos sendo deflorado foram parar na internet, partindo de seu próprio
perfil de rede social, repletas de declarações de amor... Afinal, vergonha, amor
e ódio é tudo o que resta a alguém que teve um encontro com a garota entre
aspas.
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"O essencial é invisível aos olhos"