terça-feira, 26 de agosto de 2008

Torres Brancas - A Concubina Lua



A lua brilhava como nunca antes e dançava serelepe naquela poça d’água que ninguém mais além de Torres perceberia... Ele estava cercado por seus amigos nas escadarias do templo como faziam quase todas as noites...

Diógenes tocava o bandolim, Dalva cantava, Rico ouvia e fazia piadas sobre o mundo, Walace ouvia a música e ria das piadas de Rico, Germano apenas estava ali... Ouvia, cantava, tocava, ria, declamava poemas e discursos que poucos além de Torres queriam ouvir, ele se fazia presente, mas era invisível em silêncio...

Torres – O silêncio não é sinônimo de invisibilidade...

Germano – Eu sei, mas foi você mesmo, velho amigo, quem me abriu os olhos para isso... Posso ser requisitado, convidado e até lembrado, mas minha presença me deixa invisível!

Torres – Já viu a lua?

Germano – Qual delas?

Torres – Como qual delas?

Germano – Quero saber se está se referindo a sentinela do céu ou a concubina da poça d’água, mas em todo caso vi as duas.

Torres pasmou por um mínimo instante que lhe pareceu uma vida inteira pensando em como alguém mais poderia em meio a tanta agitação notar algo tão singelo que só ele contemplava como ponto de apoio e fuga.

Torres – Sabe que às vezes você me confunde?

Germano – Sei sim, me confundo também, portanto não me surpreendo que outros o façam. Mas está se referindo a quê exatamente?

Torres – Como alguém pode ser tão próximo e distante de algo ou alguém ao mesmo tempo? Parece-me que você não se importa muito com algumas coisas... Algumas pessoas...

Germano – Eu não sou a lua, amigo, mas assim como ela: sou um só; O modo que se olha que é diferente. Não sou especial se você não quiser.

Torres – É eu sei.

E Torres levantou-se pisando na poça d’água. Desceu a escadaria e partiu.