domingo, 1 de março de 2009

CATCHUP & IMAGINAÇÃO – A Santa Sem Cabeça

Para melhor desfrutar deste texto leia a postagem anterior: CATCHUP & IMAGINAÇÃO – A Mulher de Algodão.


Que eu fui uma criança medrosa ninguém duvida, que fiquei três noites inteiras com medo de uma árvore ninguém se espanta, mas o que sempre arranca interrogações e exclamações de quem pára (ainda com acento) para me ouvir é a vez que o ápice de meu medo foi dar de frente com uma santa sem cabeça!

Como isso é possível? Você me perguntaria. Eu explico...

Melhor, vou contar:

Depois do caso da aparição da “Mulher de Algodão” no banheiro da escola, pintaram alguns corredores da MARIETA ESCOBAR de branco para melhor iluminar o lugar e ali entre os banheiros e a escada para o segundo andar (onde ficava minha sala de aula) puseram uma imagem de Nossa Senhora da Penha

Todavia, mesmo com tais providências ainda andávamos sempre em duplas ou pequenos grupos para passar por aquele trecho. O “sinal da cruz” era rito obrigatório para não dar margem ao azar e dar de cara com a Mulher de Algodão.

Mas um dia meu mundo caiu... (ou eu caí dele, não sei ao certo).

Eu sempre fui rápido como uma cadeira e com os reflexos de uma carteira escolar sem contar que enxergo tão bem quanto um apagador, desde sempre. Portanto não fazia aulas de Educação Física. No horário dessa aula eu lia gibis e desenhava (ah que saudade de quando tinha tesão de fazer isso!)

Acontece que nesse (maldito) dia eu saí sem material algum para a quadra com a turma pra responder a chamada e o professor me mandou ir a sala pegar minha mochila e sair do sol.

Eu fui.

Minha sala é a segunda do corredor do SEGUNDO ANDAR! Para chegar lá era preciso passar na frente dos banheiros

Parei no início do corredor do banheiro e tive uma longa discussão comigo mesmo de como tinha sido idiota por ter esquecido a mochila, e mais ainda por estar com medo e vergonha de levar bronca do professor se voltasse para chamar alguma companhia.

Sim, eu falo comigo mesmo quando penso estar sozinho. Relaxa.

Terminando a discussão que eu perdi (até pra mim eu perdia) decidi seguir em frente.

O corredor tinha a extensão de uns vinte metros até a curva que levaria a escadaria para o segundo andar. Do lado direito apenas uma parede lisa e branca até a curva. Do lado esquerdo havia cinco portas: a Coordenação, a Biblioteca, a Sala de Vídeo, o Banheiro Feminino (com a luz do corredor queimada bem nesse ponto!) e o Banheiro Masculino. Daí tinha um portão de grade, aberto e o vão da escada. Abaixo do vão da escada para o segundo andar ficava a imagem da santa em cima de uma carteira ao lado do primeiro vão da escada.

Voltando. Lá estava eu depois da derrota. Parado, mas resoluto a seguir em frente. Respirei fundo e fui. O passo deveria ser firme, mas era lento e comedido...

Era meu jeito de ser valente. Parecia que não saía do lugar... Os Vinte metros mais longos da história!

Passei a Coordenação...

A Biblioteca...

Parei em frente à Sala de Vídeo. O próximo obstáculo seria o ápice de meu trajeto. Respirei fundo novamente, pois iria apressar os passos. E foi então que a Porta do Banheiro Feminino se abriu (com o vento) e bateu violentamente!

Só eu sei como o caminho para trás parecia enorme, então por instinto disparei em corrida para frente! Eu me esconderia na sala de aula!

Graças a minha visão de apagador não vi que havia uma poça d’água (gigante) saindo do banheiro masculino. Fato comum, o incomum era ser água daquela vez. Com meus reflexos de carteira escolar eu escorreguei e não me equilibrava nem se o mundo dependesse disso. Cai.

Física: um corpo em movimento tende a ficar em movimento, ou seja, deslizei pelo chão parte do trajeto que faltava. Estava no chão levantando desesperado quando fui buscar abrigo e apoio visual na santa e o que eu vi?

Lá estava ela linda com seu manto azul de linho, sua túnica branca da última moda em Belém, pisando a serpente com a classe de uma diva e de olhar inexistente. Isso mesmo: INEXISTENTE. Não havia uma cabeça sobre aquele pescoço esguio! Creio que todos sabem que não há nada mais confortante do que ir buscar apoio numa “pessoa” e descobrir que ela não tem cabeça!

Claro que não!

Gritei, gritei e gritei muito! Eu não conseguia me levantar e não conseguia parar de olhar. Estava em choque.

Contaram-me depois que um aluno empurrou a carteira derrubando assim a imagem e por conseqüência decapitando-a. Colocou a imagem em seu lugar e posicionou a cabeça sobre o pescoço delicadamente de modo que ninguém percebesse até tocar e deixar cair levando assim a culpa de tal, mas a primeira pessoa que o fez foi justamente a Coordenadora da escola que saiu logo para providenciar uma cola; e para evitar que surrupiassem a cabeça sacra ou a quebrassem, ela levou consigo no bolso. E foi justamente nesse meio tempo que o sortudão aqui passou por lá.

Fato é que: restaurada ou não; a imagem não voltou para lá.

Se não fosse a poça d’água em frente ao Banheiro Masculino eu não teria caído (eu acho), mas em contrapartida ninguém notou que minha calça estava... Molhada demais.