segunda-feira, 22 de junho de 2009

A Lágrima de Tanda - O Primeiro Sinal

- O céu está mais vermelho hoje do que de costume – disse Iktus, o elfo sem camisa de torso tatuado para Leira.
- É apenas impressão sua – ela respondeu – É o peso de Káli... concluiu tristemente.
- Não é não – ele afirmou resoluto erguendo os olhos e apontando algo no céu.

Ela olhou para o céu na direção que ele apontava e quase não acreditou no que seus olhos diziam a sua mente: um enorme redemoinho de nuvens alaranjadas soltando raios para fora e para dentro de seu eixo central: um olho negro como o céu da noite costumava ser.

- Arvin disse que tinha sentido cheiro de magia essa manhã. - Ele se lembrou.
- Pensei que fosse apenas a sua paranóia costumeira agindo, mas o que é aquilo?
- É a boca de La'Mór, o Senhor da Morte. É um Maelstrong!
- Não pode ser...
- Não há tempo para discutir isso. Vamos voltar. A Seita de Orvalhus precisa saber disso.
- E o sepulcro de Káli?
- Até conseguirmos mais tempo, o deserto será seu repouso. Sei que prometemos enterrá-la em solo Kanti, mas não podemos correr esse risco agora, aquilo parece estar se movendo e crescendo ao mesmo tempo!

Leira não gostava nada daquilo, mas sabia que seu amigo de tantas joranda tinha razão mais uma vez. Soltou a argola que usava para puxar o casulo de transporte de sua amiga. Iktus fez o mesmo.

- Apresse-se – disse Iktus olhando o céu se abrir e ser engolido.
- Calma! Voltou-se para o casulo e com um movimento suve das mãos a areia do deserto puxou o casulo para baixo da superfície como se tivesse vida e ouvisse o desejo da elfa.
- Desculpe-nos Káli - ela sussurrou antes de respirar fundo mais uma vez e se levantar.

Ambos correram então rumo oeste para que ainda tivesse esperança de vida em Peradór.

Enquanto isso isso o Maelstrong devorava as areias do deserto e as aves do céu.

Iktus estava certo: aquilo estava mesmo ficando maior

segunda-feira, 15 de junho de 2009

MEU NOIVADO






DIA 13 DE JUNHO DE 2009 - MEU NOIVADO

Odisséia Canina - O Cão de Guarda



Era um lindo dobberman, magro e forte como todo bom dobberman deve ser. Feroz e obediente.

Sempre fazia o que lhe mandava o seu dono com todo o afinco que podia, pois o compreendia. Era sempre reto.

Um dia, porém seu dono o mandou castrar por tê-lo mordido.

- Por que ele fez isso com você perguntou o cão do vizinho ao dobberman castrado.
- Porque eu o mordi.
- E por que você fez isso se sempre diz queo ama e obedece?
- Exatamente por isso.
- Não entendo.
- Ele saiu e disse para morder todo estranho que se aproximasse do portão.
- Ele é seu dono!
- Ele é um homem e eu sou um dobberman, posso amá-lo, mas não posso mudar a verdade de sermos estranhos um para o outro.
- E você guarda a casa dele ainda assim?
- Sou um cão de guarda. É o que faço.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A Namorada Inesperada

Álvaro sempre esteve á margem de seus amigos, nunca fez um gol nas partidas de futebol, sempre era o último escolhido; nunca tirou a nota máxima em prova alguma mesmo sendo sempre o dono da maior nota da turma; nunca teve um porre nem mesmo conseguia fingir um; nunca teve um carro nem mesmo sabia andar de bicicleta; nadar então, só em piscinas de plástico!

Álvaro era tão à margem que gostava de fingir que não tinha um amigo imaginário aos 19 anos e que não fez xixi na cama até os 9 anos de idade.

Álvaro nunca teve uma namorada de verdade. Já teve muitas namoradas unilaterais (aquelas que apenas ele sabia do relacionamento, ela não), também houve a menina surda que não o agüentou por não entender o trajeto de suas mãos; teve a estudiosa da turma da sua irmã (5 anos mais nova) que o deixou 3 semanas depois de iniciarem o namorico por conta de sua presença constante... Um ‘chiclete’ como ela mesma dizia.

Mas isso mudaria depois que ele aprendesse a mexer no computador. Álvaro achava por influência de sua mãe que o computador era uma arma do Diabo para influenciar o mundo a esquecer o que é realmente importante para a vida com Cristo, mas depois de ser recusado por todas as meninas de sua igreja e ter sido alvo da zombaria dos meninos e cochichos dos mais velhos decidiu por fim se dar bem na vida. E apenas o computador poderia proporcionar isso sem ter que explicitamente fazer pactos com o Senhor das Moscas*.

* Senhor das Moscas é na verdade Belzebu e não o Diabo, mas convencionou-se que o diabo abraça todas as características e nomes dos demais demônios conhecidos.

Pelos motivos supracitados Álvaro não tinha um computador então recorreu a um info-centro onde não achou dificuldade para entrar em cursos para desvendar e aprender a mexer naquele monstro que seria o computador. Em breve aquele lugar seria para ele mais familiar que sua casa ou mesmo a escola. Não perdia uma oportunidade de ir até lá e o que outrora era um convite ao inferno agora era uma calculadora grande de fácil manuseio.

E foi justamente nesse lugar que uma tarde na fila conheceu Michele, uma moça negra de sorriso frouxo e olhos atraentes (um atraía o outro).Ele conhecia a todos por lá e não foi difícil se aproximar dela visto que ela já mostrou nutrir algum interesse por ele.

Era 9 de junho quando ela veio conversar em particular com ele. Andaram um pouco e depois da oitava indireta para ele finalmente aconteceu um beijo tímido que ganhou proporções de devassidão em questão de minutos. Poucas horas depois Álvaro e Michele estavam abraçados no ponto de ônibus quando rolou o diálogo ímpar:

- É engraçado como sempre procurei alguém, mas você apareceu justamente quando nem procurava mais – verdade, ele foi completamente absorvido pelo conhecimento digital.
- É
-- Seria bem legal ter te conhecido antes.
- É.
- Acho que se a situação fosse outra eu te pediria em namoro aqui mesmo...
- É? E por que não o faz?
- tenho medo de ser rejeitado de novo...
- Acha que se fosse te rejeitar estaria aqui abraçada com você em público?

Ele nunca foi muito rápido de pensamento não acadêmico.

- Então eu não vou perder essa chance... Quer namorar comigo?
- É... - Ele quase morreu de vergonha com o tom reticente daquela voz – quero sim – ela respondeu, e menos de 2 horas depois lá estava ele tendo seu primeiro porre de alegria!

Tolo, mal sabia o que estaria por vir.

Foi uma situação ímpar arranjar uma namorada 3 dias antes do Dia dos Namorados. Ele providenciou, portanto um presente para ela e levantou um dinheiro para poderem sair juntos para um cinema ou outro lugar que ela quisesse, todavia não foi o que aconteceu. No dia 12 lá estava ele no lugar marcado; perfumado e bem vestido; chegou meia hora antes e esperou até 2 horas depois.

Ela apareceu sorridente e bem produzida, mas o sorriso deu lugar a uma cara de cachorro –pidão e um discurso de companheirismo e piedade. O discurso resumia-se em:

- Acredita que justamente no Dia dos Namorados uma amiga minha ficou sem namorado? Ela está muito triste por conta dessa canalhice... Onde já se viu fazer isso com uma garota? Terminar o namoro no Dia dos Namorados! Ela sempre me ajuda e me apóia... Eu tenho que ficar do lado dela nesse momento difícil... Você entende, né?

E ele?

Claro que disse sim. E lá estava ele sozinho no primeiro Dia dos Namorados de sua vida que tinha certeza que não estaria sozinho.

No encontro seguinte ele a apresentou para sua mãe que achou a moça uma graça. Ela – Michele - estava cheia de dengos com ele e naquela noite ele viu iminente sua primeira experiência sexual!

Não foi o que ele esperava. Ela gemia como uma devassa e só permitiu que chegasse por trás!

Mas foi bom ainda assim. Naquele momento ele sentiu-se mergulhado na iniqüidade assim como dizia sua mãe que ocorreria sobre os computadores. Se a tivesse dado ouvidos...

Álvaro chutou o balde e resolveu curtir. Foi a raves, festas, “baladas” para acompanhar o ritmo de sua desvairada namorada. Numa dessas noites, depois de muita bebida Michele revelou que ela tinha outra pessoa. Ele não soube o que fazer e nem poderia; Ela estava bêbada. No dia seguinte a colocou contra a parede para saber melhor sobre isso e preferiu não tê-lo feito, pois descobriu que “a outra pessoa” era a tal amiga do Dia dos Namorados! Sua namorada tinha uma namorada!

(continua...)

domingo, 31 de maio de 2009

Ana, o Guizo e o Saco de Estrelas

(Texto dedicado a minha amiga do Espírito Santo, Anaguiza - Demorou, mas saiu.)


Certo dia viu um lindo desenho de sua amiga e ao perguntar o que era aquela coisa com cinco pontas a resposta foi:
- É uma estrela.
“Mas a estrela não é um ponto?” Pensou a jovem Ana.
- Essa tem cinco pontas, mas sei desenhar também com três, quatro, seis, e oito pontas! Gabou-se a amiga.
- Nossa oito pontas! Surpreendeu-se Ana.
Um ponto não tem ponta alguma além de si mesmo. De repente essa história de estrela se mostrou bem mais intrigante.

Ana cogitava o motivo de não enxergar as estrelas com pontas. /será que as estrelas não gostam dela?
Não era isso. Descobriu que as pessoas mais odiáveis também as veem, entretanto não dão tanta importância.

Descobriu Ana depois disso que as estrelas não eram apenas o que ela não enxergava, mas nada parecia tão importante quanto isso.

Decidiu se tornar amiga delas para conseguir vê-las. Aprendeu a desenhar estrelas de muitas pontas, mesmo sendo cópias do que os outros viam e ela não, e ainda assim as suas eram bem mais bonitas.


Aprendeu ternas canções para elas e cantava sempre que conseguia ficar sozinha com o céu noturno... Até confidências passou a fazer.

Um dia, ou melhor, uma noite enquanto cantava para o manto negro acima dela, Ana viu uma luzinha brilhar. A luz foi ficando maior e se movia... Parecia um pássaro de luz branca vindo em sua direção. Ela não conseguiu fazer mais nada além de cantar mais alto para o pássaro.

Não era um pássaro, mas um anjo!
Um anjo jovem e bonito.

Ele explicou que era um anjo do céu e que estava ali para realizar o desejo dela de ver as estrelas e lhe pedir um favor. Se aceitasse seria capaz de ver até mesmo as estrelas adormecidas. Ela aceitou.

O anjo disse então que parte das estrelas do céu já estão dormindo ou mortas, mas continuam a brilhar por séculos antes de desaparecer. Disse ainda que cada vez que uma criança deixava de acreditar em alguma fantasia uma estrela morria na hora e caía do céu. Essa estrela cadente tem o poder de realizar um desejo a quem a contempla em queda, mas pode enriquecer o mais pobre dos homens e fazer inveja ao mais rico dos reis.

O favor seria recolher essas estrelas cadentes para não caírem nas mãos de uem não merece. Para tal ele a entregou um guizo que soaria toda vez que uma estrela despencasse do céu e um saco para guardá-las. Disse ainda que poderia usar cada estrela do saco para realizar um desejo fazendo ela se apagar e sumir, mas cada desejo usado faria sumir de suas vistas o brilho de dez mil estrelas do céu. Elas ainda estarão lá, todavia Ana não poderia mais vê-las.

Ela aceitou. Ajudaria o mundo ao custo de sua vitória. Chegaria uma noite em que olharia para o céu e não veria nada além da lua.

E saiu Ana, o Guizo e o Saco de Estrelas com sua sina de realizar o desejo dos outros a custa do seu...



***

Quem ouve o canto das estrelas nunca esquece.
Quem já se banhou em sua luz nunca mais estará sujo
E antes do amanhecer se erguerá às alturas como uma estrela de cinco pontas.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Pegadas ao Vento - A Guerra da Razão

"A Guerra da Razão aconteceu aqui em Peradór a 150 anos, mas sua lembrança é muito nítida na cabeça dos Perdosos (quem nasce em peradór=perdoso).

Acontece que um dia Uma criatura chamada Béllicus apareceu por aqui trazendo sede de conhecimento e aqueles que o ouviram logo começaram a criar coisas e mais coisas,em pouco tempo ele se revelou um avatar de si mesmo; Béllicus o deus ds Tecnologia!

E em menos de 10 anos muita coisa já havia mudado e no fim do 30º ano a "tecnologia" rivalizava tanto com as capacidades mágicas, que alguém decidiu que a outra a tornava obsoleta e assim então os mago e os tecmagos lutaram por 3 anos.

No fim os tecmagos venceram e aprisionaram os 6 Magos Anciãos num cubo mágico e desde então nenhuma magia funcionou corretamente em Peradór sem o aval dos tecmagos.Ainda se encontra um mago aqui ou ali, mas são raros e de pouco juízo.

...Aqueles que forem vistos usando magia serão advertidos e é até possível que presos quando não... mortos."

Dânea, a coruja falante da floresta Yxion, Peradór.

Cicatrizes e Lágrimas - A Última Lição

Erian, o mago do fogo, chegou bem perto da fogueira e pode ouvir o crepitar dos gravetos e o cheiro agre-doce deles queimando...

A lua brilhava forte como o sol naquela noite e isso o trransportou para algum lugar em seu passado

...

MESTRE TIMOTY: O fogo é uma força que requer muito controle. Sua presença pode matar ou salvar vidas, pode destruir ou modelar...

Mestre Timoty foi aquele que substituiu sua família e lhe ensinou a base de seu aprendizado quando Erian mostrou que tinha dons de manipulador das chamas aindagaroto...

ERIAN: Eu tenho controle!

MESTRE TIMOTY: Então me explique todas essas queimaduras?

ERIAN : É que as vezes ...

MESTRE TIMOTY: Às vezes é muitas vezes Erian! Se houver falha ao lidar com o fogo que seja uma, duas ou três vezes, mas EM TODA UMA VIDA!! Você é o discípulo que mais rápido aprendeu as técnicas de invocação das chamas mágicas que já tive, mas deixa isso lhe subir a cabeça...

Era bom ser repreendido por ele. Fazia o jovem ter certeza que alguém se importava de verdade... qualquer outra pessoa teria os cabelos incendiados, mas não Timoty. Ele não.

ERIAN: Vou me lembrar disso mestre... Pra sempre! Não vou mais errar com o fogo!

MESTRE TIMOTY: Tudo bem. Agora continue.

Duas horas depois a casa do mestre ardia em chamas e o pequeno Erian se exilou numa caverna por 3 meses até ter certeza de que não cometeria mais enganos pífios...

...A noite estava mesmo muito clara e a fogueira mágica bem forte, mas ainda assim o mago do fogo sentia um frio dentro de si...

ERIAN: Eu não cometo mais erros com o fogo mestre...

Ultima frase para a Pira Funerária, que ele mesmo fez para seu finado mestre anos mais tarde.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Torres Brancas - O Conselho dos Narradores


Este é um texto retroativo; devia tê-lo postado antes do carnaval, mas por uma série de impecílios que não cabe citar aqui, o faço apenas agora. Antes tarde do que nunca... "Nunca" certamente não seria.


TORRES BRANCAS
O CONSELHO DOS NARRADORES


Depois de tantas idas e vindas, altos e baixos individuais e coletivos, dois amigos se reencontram quase que inusitadamente. Eles se abraçam, se calam e já mergulham numa conversa que poderia ter sido iniciada há alguns segundos ou a doze anos atrás.

Germano, o poeta, artista, apaixonado e louco. Torres, observador, artista anônimo, historiador ascendente. Ambos preocupados com o mundo e com o futuro do ser individual e coletivo a que denominamos homem.

Assim começou a conversa:

GERMANO – Linearidade pra quê? Não poderíamos arrumar os fatos como quiséssemos para a história ficar sempre interessante?

TORRES – As coisas não são assim, meu caro. Não fazemos muito além do papel de cada um, lembra quando você me disse isso?

GERMANO – Lembro.

Começaram a andar sem destino enquanto houvesse o que dizer ou desfrutar.

GERMANO – Eu estava impotente e desolado por conta...

TORRES – Por conta de uma mulher! Assim é a vida, assim é a história. Não poderia amar Rosaline, sonhar com Viviene e acordar com Lory...

GERMANO – Podia sim... Respondeu tempestuosa e teimosamente o artista desolado.

TORRES – E por que não o fez? Replicou sabiamente.

GERMANO – Porque não podia... - Teve de concordar.

TORRES – Vê como é preciso eximir-se dos sentimentos para ver com mais clareza as coisas?

GERMANO – Às vezes! Bradou o poeta arrancando a mania tola de generalização da conversa.

TORRES – Às vezes – concordou.

GERMANO – Você vai mesmo?

TORRES – Pra onde?

GERMANO – Para o Conselho dos Narradores.

TORRES – Não sei.

Germano sabia que Torres havia estudado muito para aquela audição com os Conselho, mas é preferível falar do que se quer falar.

GERMANO – Hum... Quer ir tomar um vinho, calar a boca e depois falar como um desenfreado?

TORRES – (sorriu) Quero sim.

Germano decodificando a cena, arrisca:

GERMANO – É aquela história da água na pedra?

Ambos vão à busca da primeira bodega que aparecer.

TORRES – É sim, mas eu prefiro aquela da Perseverança ou aquela da Preparação... Ou do calvário que chega ao fim trazendo luz...

GERMANO – Vai separar bem o coração dos fatos e da fé?

TORRES – Vou. Não sei se conseguirei, nem se quero conseguir, mas vou tentar.

Chegando na bodega o silêncio se fez presente por um mínimo instante a ponto de notar que um acorde em sol menor se fez ouvir não muito distante e ambos sabiam que poucos corações resistem a um sol menor.

GERMANO – Nunca mais teremos conversas como esta?

Virou de uma vez o primeiro copo de vinho como o fazia de costume em lugares assim e circunstâncias como essa.

TORRES – Essa dúvida é minha...

GERMANO – Eu sei, mas você é melhor respondendo as próprias perguntas do que eu.

“Sacana” pensou o historiador, “Sempre resguardado”. Olhou parra uma das diversas poças d’água existentes na cidade visíveis de dentro da bodega depois de mais uma noite de verão chuvoso.

TORRES – Vamos sim. Será outra bodega, acontecerá menos, mas teremos sim. Certamente.

GERMANO – Fico feliz por ter te conhecido tal qual aconteceu.

TORRES – É mútuo, seu branquelo...

Silêncio.

Sol menor.

GERMANO – Pare de ler meu silêncio, por favor.

TORRES – Eu não estava... Ah ta bom, estava sim, mas é o que me oferece; e temos de viver com o que nos dão.

GERMANO – Eu quero mais que isso.

TORRES – Eu também.

Silêncio.

Os olhos inquietos de Germano vistoriam todos os cantos e pessoas à sua volta. Decide se refazer de seu próprio devaneio com a pergunta entusiasmada:

GERMANO – Quando vai saber sobre o Conselho? Dalva me disse que já estão avisando.

TORRES – Saberei assim que ler a carta selada que está em meu bolso.

GERMANO – Está com você? Há quanto tempo?

TORRES – Dois dias.

GERMANO – E por que não abriu ainda?

TORRES – Não consegui, precisava tomar um bom vinho para isso...

GERMANO – Mas...

TORRES – Não me refiro a qualquer vinho. Em todo caso (retira a carta do bolso), aqui está.

GERMANO – O que está esperando? Abra!

TORRES – Hum... Tudo bem.

Começou a abrir com os cuidados de um artesão em exercício de seu ofício dizendo:

TORRES – “Um dia uma criança que morava num porto perguntou ao pai: ‘pai, por que você sempre refaz o píer se a cada dois meses vem um temporal e o destrói?’ O pai largou o que fazia, abaixou-se e olhou bem nos olhos do menino e respondeu: ‘Aqui é meu lugar. Minhas vitórias são daqui. Sempre que o refaço, ele fica mais resistente, então vou refazer até achar o jeito certo’. O menino saiu de casa e foi sentar em seu lugar favorito no mundo inteiro...

Torres deixou os olhos correrem pelas linhas da correspondência que acabara de abrir e desdobrar, deixou cair uma lágrima, sorriu para si, depois para seu amigo e disse:

TORRES – Eu passei – falou baixo, mal se ouviria se não estivesse prestando atenção.

GERMANO – VOCÊ PASSOU! Gritou Germano, como torres já achava que ele faria

A felicidade de Germano é como um incêndio que se alastra rapidamente e deixa marcas por onde passa. Depois desta noite os dois amigos se afastariam novamente, mas seguiriam como vencedores.

Beberam todos os vinhos, cantaram com todas as estrelas, cortejaram divertidamente a lua naquela noite Águas Pardas se incendiou de alegria.

Esse fogo estava extinto pela manhã, mas não longe dali, no Desfiladeiro das Recordações, existe uma torre branca e horizontal – parece um braço fugindo da pedra. Suas tochas foram acesas com um fogo que não se extinguirá jamais e seu dono sabe disso.



Parabéns Alessandro!

terça-feira, 24 de março de 2009

Segredos Públicos

A noite está fria.

O bar está cheio.

A música está alta e o poeta amador oferece seus versos a módicas moedas.

Ostenta um sorriso cativante e simples. Pega o combinado e sai. Vai rimar em outra freguesia sem a certeza de que alcançará alguém.

...

Tarde quente.

Cidade pulsante.

Trânsito rápido.

Carlos para na calçada a espera do semáforo. Todos ao seu redor atravessam a rua.

O semáforo retorna a abrir para os carros. Carlos olha um carro verde vindo não muito atrás e anda.

Anda entre os carros. Não se desvia. Não se retarda. Apenas anda.

Se posiciona para que a motorista do carro verde possa vê-lo, mas não possa desviar-se dele.

Ele nem fechou os olhos, apenas sorriu e acabou.

De seus dedos escapa um papel:

" Agora vivo em seu olhar, pois cansei de viver no escuro"

...

Manhã chuvosa.

Bairro sonolento.

Terraço sujo.

Elisa olha para as outras casas e imagina se agora estariam todos bem.

Um ônibus se aproxima e o prédio já sente o pisar de cada funcionário.

Ninguém teria notado aquele espaço vazio no fundo? Não deveriam telefonar para algum conhecido?

Não.

Ela abriu os braços e o teto do ôniubs a acolheu como um pai.

Ninguém acreditava no que tinha acontecido, mas sabiam suas últimas palavras graças a um papel anexo a seus documentos:

"Agora vivo em vocês, pois cansei de viver só em mim".

...

Noite abafada.

Apenas os lábios safados de uma mulher ou a espuma gelada de uma cerveja fariam Luís não desistir de acordar no dia seguinte.

O bar estava lotado.

Luís passa de mesa em mesa com sua bolsa aberta exibindo os volumes xerografados e cuidadosamente finalizados de seus livretos de poesia.

Declama um verso ou outro para chamar a atenção. Poucos ouvem, mas todos ouviram o estampido que o derrubou de surpresa.

- Agora viva em mim, pois cansei de ser morada só de minhas dores - declamou Roberto disparando mais duas vezes contra o poeta no chão.

A música parou.

- Viverems todos fora daqui, pois aqui se cansou de nós... Disse Roberto dando um tiro em sua própria cabeça e caindo morto

Assim morreu Roberto, filho de Elisa e irmão de Carlos na vingança de uma dor que não lhe cabia mais...

Assim Renasceu Luís de cada olhar que se voltou pra seus versos pilhados da cena do crime.

...

Ontem vivia em mim e descobri cmo cansa ser vazio,
Pois me enchi de tanta coisa que não serve mais
Que ser eu não faz mais tanto sentido.
Você levou um pouco de mim e nem me pediu permissão.
Faz falta, sabia?
Me vi no escuro dos holofotes de neon,
No silêncio dos shows que nunca fui
E no calor das camas que nunca deitei.

Ontem acordei e sai por aí.
Me deixei em casa e apenas saí.

Não cruzei olhares,
Não retribui sorrisos,
Não apertei abraços,

Pois eles não ocorreram.
Saí sem mim e descobri que só vivo com você!

Isso deve mudar.
De alguma forma
Isso deve mudar!

Já sei
Vou ser você e assim viverei para mim...

Agora vivo em seu olhar, pois cansei de viver no escuro
Agora vivo em vocês, pois cansei de viver só em mim
Agora viva em mim, pois cansei de ser morada só de minhas dores

No fim, pois ele virá...
Viveremos todos fora daqui, pois aqui se cansou de nós...

sábado, 21 de março de 2009

...











CASUAL SPAM - A Tecnologia e a Fé


Olá.

Não vou dizer meu nome, pois de onde venho (o mais adequado é dizer “de quando” venho) não usamos mais nomes e sim nicknames, portanto sou Relator_57@provedor.

Sou Humano (Modelo Plus), tenho não mais idade do que você agora, mas sou de um tempo pouco mais que um século depois do seu. Venho através deste e-mail relatar as coisas de meu tempo para que você, tendo ciência de tal possa decidir o que deve ser feito. Lancei esse e-mail para toda web pública de Metrópole Superior (PS), mas pelos registros no seu tempo chamava-se (ou se chama) São Paulo – SP. Como a maior das polis do continente latino acredito que um de vocês saberá o que fazer...

Confesso que é muito difícil digitar usando tantas letras e pontuações e acentos.

Na matina de antes-hoje fui deletado do sistema religioso de PS, por conta de meu interesse por pesquisas sobre seu tempo, e antes que eu seja também deletado da Pasta Plus (e me torne um Humano Modelo Comum), faço minha parte no que vocês chamavam de ação dissidente ou protesto.

Componentes de SP!

É chegado o tempo em que a tecnologia devorou os valores e até a (sua) Santíssima Trindade se alterou. O que outrora era Pai, Filho e Espírito Santo, agora é: Técnico, Hardware e Software.

Não há mais Papa Bento XVI, em seu lugar tem o Gerente Bill Gates III.

Com exclusividade relato aqui uma prévia de como são as coisas nesse novo tempo. Não quero ser um HMC a menos que todos os componentes de PS também o sejam.

Salvem o futuro!

RELATO:

Padre Gates II “Salve a Micro” acabou de entrar.

Pecadora Arrependida acabou de entrar.

Pecadora Arrependida diz:
Oi.

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
Oi meu contato.

Pecadora Arrependida diz:
Vc ta ocupado?

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
N. uso esse status p escolher c qm tc.

Pecadora Arrependida diz:
ah táááaááá´!

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
...

Pecadora Arrependida diz:
posso tc c vc?

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
pode

Pecadora Arrependida diz:
xD

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
quer tc d q?

Pecadora Arrependida diz:
quero confessar

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
hum. Pode começar.

Pecadora Arrependida diz:
ok. Perdoa eu padre pq eu pequei...

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
oq vc fez meu contato?

Pecadora Arrependida diz:
eu passei um vírus p um contato do meu irmão

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
:/

Pecadora Arrependida diz:
n acabou

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
hum

Pecadora Arrependida diz:
eu clonei o orkut de uma amiga pq ela tem mais contatos que eu.

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
isso é grave

Pecadora Arrependida diz:
tem mais... eu hackiei o meu jogo de World of Warcraft Space II pq tava morrendo direto. Meu char tava todo bugado.

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
Placa Mãe!

Pecadora Arrependida diz:
e eu disse a meu namorado para usar o Linux 3000 no lugar do Windows XP Super que era bem mais legal...

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
O.O’ OQ????!!!!!

Pecadora Arrependida diz:
ESTOU ARREPENDIDA. Oq eu faço?

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
N CAPSLOCK COMIGO NOOB!

Pecadora Arrependida diz:
:-( Desculpe.

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
primeiro diz p seu namorado q vc disse uma GRANDE besteira

Pecadora Arrependida diz:
E depois?

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
depois digite no Bloco de Notas do Castigo sem erros ortográficos o Manual do Técnico 3 vezes sem Ctrl C + Ctrl V pq o Técnico é como o Cavalo de Tróia, sabe tudo q faz no seu pc! Envie essa mensagem para no mínimo 20 contatos individuais nos próximos 5 minutos ou será encaminhada ao inferno e ter um Celeron com 40GB, Windows Vista Sem Internet!!!

Pecadora Arrependida diz:
NAAAAUUUUUUUUUMMMMM BUÁÁÁÁÁÁÁÁ´!!!!

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
N CHORE NO TECLADO!

Pecadora Arrependida diz:
Vou começar agora mesmo.

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Padre Gates II “Salve a Micro” acaba de chamar sua atenção
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Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
E torce para a sua Internet n cair! Vá em paz. Em nome do Técnico, do Hardware e do Software. Ok.

Pecadora Arrependida diz:
Ok.

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Pecadora Arrependida parece estar offline.
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O TÉCNICO acabou de entrar

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
Senhor, perdoa, eles n sabem o que fazem...

TÉCNICO diz:
Todos tiveram Informática Básica no jardim de infância.

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
Oq falta é ética...

TÉCNICO diz:
Meu caro. Nesse caso só clicando em Delete e formatando o sistema.

Padre Gates II “Salve a Micro” diz:
Ok, Senhor.

Padre Gates II “Salve a Micro” parece estar offline.

Placa Mãe acabou de entrar.

TÉCNICO diz:
Oi

Placa Mãe diz:
não seja careiro com eles...A ignorância está para o Homem assim como a lerdeza para a Internet discada.

TÉCNICO diz:
Ok Placa Mãe. Vamos continuar nosso jogo de zerinho ou um

Placa Mãe diz:
Ok.

TÉCNICO parece estar offline.

Placa Mãe parece estar offline.

FIM DO RELATO

Sendo assim confio a você decidir o que fazer com essa informação..

Salve meu presente.

Salve seu futuro!

domingo, 1 de março de 2009

CATCHUP & IMAGINAÇÃO – A Santa Sem Cabeça

Para melhor desfrutar deste texto leia a postagem anterior: CATCHUP & IMAGINAÇÃO – A Mulher de Algodão.


Que eu fui uma criança medrosa ninguém duvida, que fiquei três noites inteiras com medo de uma árvore ninguém se espanta, mas o que sempre arranca interrogações e exclamações de quem pára (ainda com acento) para me ouvir é a vez que o ápice de meu medo foi dar de frente com uma santa sem cabeça!

Como isso é possível? Você me perguntaria. Eu explico...

Melhor, vou contar:

Depois do caso da aparição da “Mulher de Algodão” no banheiro da escola, pintaram alguns corredores da MARIETA ESCOBAR de branco para melhor iluminar o lugar e ali entre os banheiros e a escada para o segundo andar (onde ficava minha sala de aula) puseram uma imagem de Nossa Senhora da Penha

Todavia, mesmo com tais providências ainda andávamos sempre em duplas ou pequenos grupos para passar por aquele trecho. O “sinal da cruz” era rito obrigatório para não dar margem ao azar e dar de cara com a Mulher de Algodão.

Mas um dia meu mundo caiu... (ou eu caí dele, não sei ao certo).

Eu sempre fui rápido como uma cadeira e com os reflexos de uma carteira escolar sem contar que enxergo tão bem quanto um apagador, desde sempre. Portanto não fazia aulas de Educação Física. No horário dessa aula eu lia gibis e desenhava (ah que saudade de quando tinha tesão de fazer isso!)

Acontece que nesse (maldito) dia eu saí sem material algum para a quadra com a turma pra responder a chamada e o professor me mandou ir a sala pegar minha mochila e sair do sol.

Eu fui.

Minha sala é a segunda do corredor do SEGUNDO ANDAR! Para chegar lá era preciso passar na frente dos banheiros

Parei no início do corredor do banheiro e tive uma longa discussão comigo mesmo de como tinha sido idiota por ter esquecido a mochila, e mais ainda por estar com medo e vergonha de levar bronca do professor se voltasse para chamar alguma companhia.

Sim, eu falo comigo mesmo quando penso estar sozinho. Relaxa.

Terminando a discussão que eu perdi (até pra mim eu perdia) decidi seguir em frente.

O corredor tinha a extensão de uns vinte metros até a curva que levaria a escadaria para o segundo andar. Do lado direito apenas uma parede lisa e branca até a curva. Do lado esquerdo havia cinco portas: a Coordenação, a Biblioteca, a Sala de Vídeo, o Banheiro Feminino (com a luz do corredor queimada bem nesse ponto!) e o Banheiro Masculino. Daí tinha um portão de grade, aberto e o vão da escada. Abaixo do vão da escada para o segundo andar ficava a imagem da santa em cima de uma carteira ao lado do primeiro vão da escada.

Voltando. Lá estava eu depois da derrota. Parado, mas resoluto a seguir em frente. Respirei fundo e fui. O passo deveria ser firme, mas era lento e comedido...

Era meu jeito de ser valente. Parecia que não saía do lugar... Os Vinte metros mais longos da história!

Passei a Coordenação...

A Biblioteca...

Parei em frente à Sala de Vídeo. O próximo obstáculo seria o ápice de meu trajeto. Respirei fundo novamente, pois iria apressar os passos. E foi então que a Porta do Banheiro Feminino se abriu (com o vento) e bateu violentamente!

Só eu sei como o caminho para trás parecia enorme, então por instinto disparei em corrida para frente! Eu me esconderia na sala de aula!

Graças a minha visão de apagador não vi que havia uma poça d’água (gigante) saindo do banheiro masculino. Fato comum, o incomum era ser água daquela vez. Com meus reflexos de carteira escolar eu escorreguei e não me equilibrava nem se o mundo dependesse disso. Cai.

Física: um corpo em movimento tende a ficar em movimento, ou seja, deslizei pelo chão parte do trajeto que faltava. Estava no chão levantando desesperado quando fui buscar abrigo e apoio visual na santa e o que eu vi?

Lá estava ela linda com seu manto azul de linho, sua túnica branca da última moda em Belém, pisando a serpente com a classe de uma diva e de olhar inexistente. Isso mesmo: INEXISTENTE. Não havia uma cabeça sobre aquele pescoço esguio! Creio que todos sabem que não há nada mais confortante do que ir buscar apoio numa “pessoa” e descobrir que ela não tem cabeça!

Claro que não!

Gritei, gritei e gritei muito! Eu não conseguia me levantar e não conseguia parar de olhar. Estava em choque.

Contaram-me depois que um aluno empurrou a carteira derrubando assim a imagem e por conseqüência decapitando-a. Colocou a imagem em seu lugar e posicionou a cabeça sobre o pescoço delicadamente de modo que ninguém percebesse até tocar e deixar cair levando assim a culpa de tal, mas a primeira pessoa que o fez foi justamente a Coordenadora da escola que saiu logo para providenciar uma cola; e para evitar que surrupiassem a cabeça sacra ou a quebrassem, ela levou consigo no bolso. E foi justamente nesse meio tempo que o sortudão aqui passou por lá.

Fato é que: restaurada ou não; a imagem não voltou para lá.

Se não fosse a poça d’água em frente ao Banheiro Masculino eu não teria caído (eu acho), mas em contrapartida ninguém notou que minha calça estava... Molhada demais.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

CATCHUP & IMAGINAÇÃO - A Mulher de Algodão

Acredito que em todos os estados brasileiros deva ter uma lenda urbana referente a esse trema, quando não cada cidade!

O caso é que na minha cidade tem e vou contar para vocês:

Quando criança estudei numa escola chamada: ESCOLA DE Iº GRAU MARIETA ESCOBAR.

A única referência a esse nome que os alunos tinham era um retrato em preto e branco de uma mulher na sala dos professores. Ela era professora e seu retrato tinha olhos envolventes e penetrantes. Diziam que se olhasse fixo nos olhos dela, eles piscariam de volta.

(Nunca foi tão bom enxergar tanto quanto um apagador, pois nunca vi isso).

Os garotos mais velhos (veteranos da 4ª série) disseram que a mulher do retrato já estava morta há muito tempo (isso eu já sabia) e que ela tinha sido assassinada (aí comecei a tremer) por seus próprios alunos!

Nesse momento já fiquei um tanto quanto... Desesperado!

Com tantas escolas pela cidade e minha mãe resolve me colocar justamente em uma em que os alunos matam gente!

O resto de minha turma (menos ingênua do que eu) não acreditou. Logo fomos agraciados com o (maldito) conhecimento de toda a (maldita) história:

Marieta era professora do primário (3ª e 4ª série), mas era muito má: mandona e falava alto com todo mundo (eu me perguntei por que homenagearam alguém assim). Ela sempre castigava seus alunos com reguadas nas mãos e longas broncas.

Um dia ela quebrou a régua na mão de uma menina que não havia feito nada de mais. Os alunos se revoltaram, se organizaram e no dia seguinte quando ela entrou na sala eles trancaram todas as saídas. E a atacaram com giletes de estiletes e tesourinhas escolares (sem ponta!), daí a levaram para o banheiro feminino e depois dela morrer tiraram tudo de dentro dela (pra quê?) e jogaram fora nos vasos sanitários (Putz! Como? Por quê?) e encheram o corpo dela de algodão para ninguém notar (!).

Como todo mundo era menor de idade ninguém foi preso (Ainda bem né?) e a imprensa disse que a professora morreu do coração (é verdade, ser atacado por assassinos de 1,5m é algo que faz o coração não resistir mesmo...).

Na semana seguinte as aulas estavam normalizadas, mas a escola não era a mesma, pois as luzes estavam mais fracas (até as novas ficavam assim) e algumas quebraram sozinhas! Mas isso nem se compara ao fato que ocorreu um mês depois: uma menina saiu durante a aula para ir ao banheiro e a escola inteira ouviu seu grito!

Ela estava desesperada e só se soube o que aconteceu depois dela acordar de um desmaio.

Disse que quando entrou no banheiro viu uma mulher de pé, no canto, usando uma roupa branca com a pele toda ferida e cheia de algodão saindo dela...

A menina estava em seu primeiro dia de aula, mas reconheceu a mulher do banheiro de um certo retrato na sala dos professores...

Desde então ninguém mais vai ao banheiro sozinho ou passa em frente a ele sem fazer o sinal da cruz para evitar ver a Mulher de Algodão, como a chamaram daí para a frente.

Mesmo não acreditando nessa história a administração da escola pintou esse corredor de branco para aumentar a iluminação e colocaram uma imagem de Nossa Senhora da Penha para elevar o moral das crianças.

... Ledo engano...




Quem quiser saber mais histórias dessa personagem emblemática das lendas urbanas acesse:

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Surpresa

Silencia,
Olha,
Avalia,
Respira e fala:
- Não precisamos de palavras aonde quero te levar.
Depois disto
Gritos de alívio, dor e prazer
Envergonham o silêncio.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Uma Volta em Torno do Sol



Quatro estações

A intemperança do inverno,
A introspecção do outono
A euforia do verão
A felicidade da primavera

Quantos luares e crepúsculos
Quantas auroras
Quantas meias-noites acordados juntos
Quanta vida se faz em um ano?
Quanta vida se faz em um ano!

Foram algumas lágrimas,
Muitos sorrisos,
Muitas barreiras
E vozes que desacreditavam,
Mas ouvimos a voz que escolhemos:
Um ao outro

Um ano.
Já engatinhamos
E agora nos seguramos em tudo
E um no outro para andar
E até correr.
Cairemos juntos,
Mas isso nos ensinará
E levantaremos sempre e sempre.
As primeiras palavras já ficaram para trás,
Mas ecoarão por muito tempo ainda:
Eu te amo muito
E cresceremos bastante ainda

Quer trocar chupeta comigo?

Do sempre seu.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Mia Manchinha, Mia!


Já fui uma criança muito peralta, já fiz muita besteira, muita burrice e até maldade. Entretanto, crianças não discernem tão bem a diferença entre bem ou mal.

Tenho lembranças nebulosas de meus tempos de infância e a minha primeira lembrança não é nada romântica ou bonita: eu tinha 2 anos e matei um gato!

Fui presenteado por minha tia com um gatinho malhado. Chamei imediatamente de Manchinha.

Achei ele meio chato por que não conversava nada, daí ela me explicou que os animais falam sua própria língua e que o Manchinha como todos os gatos miava.

- Gente fala e gato mia – ela disse.

Eu pegava o gato nas mãos e falava:

- Mia gatinho, mia!

Normalmente nada acontecia, mas quando ele miava, eu dava uma risada que enchia a casa de alegria (já notaram o poder de transformação de uma risada de criança?), era super divertido.

Manchinha era filhote assim como eu. Não tínhamos um quintal ou redondeza muito segura para um filhote ou uma criança, portanto, pedi uma casa para ele para que eu pudesse também ficar em casa. Minha família nunca foi a mais afortunada do bairro (tampouco a mais inteligente), e deste modo improvisávamos muitas coisas como essa, mas que para a surpresa de alguns, a casa de meu gato acabou sendo uma gaiola!

(E mesmo depois do que narro agora não aprenderam e repetiram a sandice com o fogão do coelhinho Puff).

A gaiola além de imprópria para o animal em questão era velha e de metal meio enferrujado.Meu quintal não era dos melhores por conta dos galhos retirados de duas árvores cortadas para a construção de uma casa no terreno. Os materiais de construção toscamente distribuídos e os escombros de todos os tipos espalhados.

A gaiola era pesada e pouco confortável de segurar para uma criança de 2 anos (e tampouco como moradia para um bicho daquele... ou qualquer outro bicho). Vez por outra lá ia ela rolando pelo chão enlouquecendo o pobre bichano que rodopiava indefeso dentro dela pelo cômodo inteiro antes de parar, daí eu o pegava e dizia:

- Mia gatinho, mia!

Saía um miado meio zonzo super divertido.

Não demorou muito para ela – a gaiola – se tornar um perigo (e uma arma) para nós.Manchinha era um gatinho meio tonto e eu um menino de dedos constantemente cortados graças s pontas soltas e afiadas.

Uma manhã fui procurar Manchinha para brincar (lembram disso de algum lugar? Hehehe) e nem ele nem sua casa / gaiola estavam em lugar algum. Finalmente minha vó disse (Deja vu) que o pedreiro achou engraçado ver um gatinho criado dentro de uma gaiola e levou para mostrar para os ajudantes e esqueceu de trazer de volta, logo estaria na construção.

Fui em seu encalço e depois de desviar de uns sacos de areia, um monte de entulho e sobreviver a poeira do cimento visualizei a gaiola no alto de um monte de tijolos (bem mais alto que eu (alguém achou que seria fácil? Ai ai ai). Como a maior parte das crianças em dificuldade eu chamei um adulto para me ajudar...

Peraí, a quem estou tentando enganar?

Nenhuma criança dita normal pede ajuda antes de tentar e se ferrar!

É claro que eu tentei e é ainda mais claro que eu me ferrei...

Lá fui eu com toda minha (não) destreza escalar o obstáculo que me separava de meu desejo, nem preciso dizer que não demorou muito para eu cair e derrubar um bocado dos tijolos (a única sorte dessa história foi ter apenas me arranhado na pena), sem dizer que a gaiola também caiu e ricocheteou em todos os lugares possíveis e impossíveis (nem se fosse de borracha teria ricocheteado tanto). No fim quando decidiu (?) parar estava bem mais retorcida que o normal e tinha bem mais pontas soltas que antes, agora em todas as direções!

Eu me recuperei da queda (não antes de chorar horrores) e olhei em volta em busca do gato; lá estava ele dentro daquele ouriço de metal enferrujado que outrora foi uma gaiola. Manchinha estava acuado, assustado e completamente tonto exibindo suas cores: preta, branca, marrom de poeira e... Vermelho!

Tenho nítidos problemas visuais (sacaram o trocadilho infame?), logo as cores vibrantes são ainda mais atraentes para mim, como se a cor vermelha já não chamasse atenção das crianças e certos animais, eu fiquei hipnotizado / aficionado e mais que rapidamente enfiei a mão no ouriço de metal por algum buraco que não era a portinha, peguei o bichano e puxei para fora...

- Mia gatinho, mia!

Ele era um pouco maior que essa nova abertura, mas forcei e ele passou e como miava engraçado...

O vermelho então se acentuou e Manchinha começou a se debater em minhas mãos e à medida que eu apertava para que ficasse quieto e não me machucasse mais ele mexia... E mais vermelho ficava...

Ele parou de mexer.

Não miava mais...

- Mia gatinho, mia!

Quando vi que ele estava imóvel, molinho e que minha mão estava toda molhada de vermelho, me bateu uma tristeza e um desespero.

- Mia gatinho, mia!
Era o que eu gritava agitando as mãos e corria para a barra da saia de minha vó.

Aprendi o que era sangue, me falaram algo sobre uma tal de “morte” e não entendi muito além de que não teria mais gatos em gaiolas e que o Manchinha não ia miar nunca mais.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A Menina do Parque


Ela corria o parquinho como se não tivesse limites.

Seu corpinho frágil tropeçava nos bancos de areia, mas ela logo se levantava, limpava areia do vestidinho e voltava a correr!

Tudo era novo pra ela: cada brinquedo, lugar ou pessoa. Deve ser maravilhoso ver tudo com ineditismo.

Deve ser muito emocionante ser um aventureiro descobridor de tudo toda hora.

Adoro vê-la brincar.

Faz minha semana de trabalho valer a pena. Quando penso que amanhã é o dia do parquinho e do modo que ela sorri na hora do sorvete que toma junto de seu vestido e de sua boneca que não escapam nunca de serem lambuzados... Ah!

Mal posso esperar a hora de ter uma filha também!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Silêncio Social - Timidez


Cruzava com ela todos os dias na volta para casa. Ele da escola e ela do trabalho.

Ele encantou-se, se apaixonou.

Escreveu uma carta,

Demorou,

Atualizou,

Demorou,

Atualizou novamente e esbarrou nela.

Em casa ela encontrou o envelope desconhecido – 2 dias depois.

Sua reação?

Ele não soube, pois sua timidez o forçou a mudar de trajeto na volta da escola.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O Braço de Ferro do Amor de Quem Não Ama

- O mundo dele é o mesmo que o nosso, mas sua realidade é diferente – disse o advogado do estrangeiro detido – ele vê com os olhos de uma criança desbravadora, mas sem a sorte da criança de poder criar e recriar tudo a todo instante sem regras ou travas.

- A linguagem que entende se faz com as mãos! Bradou o delegado residente interessado em crucificar o estrangeiro segundo os costumes greco-cristão-indígenas do Brasil.

- Palavras importam pouco em certas situações – retrucou o advogado - E tem horas que saber “banheiro” em umas 2 ou 3 línguas diferentes pode ser muito útil... Você sabe?

- Não sei e não quero saber! Não pretendo invadir a pátria de ninguém!

- Ele não invadiu. Os documentos estão em ordem. Pondere suas palavras... Cuidado com as acusações vazias, senhor delegado.

- Já que estava arriscando usar minha língua... Sabe por que está nessa delegacia?

Ele não entendeu uma palavra sequer, mas pelo tom do delegado sabia que deveria responder que não com a cabeça para não ter de tentar falar palavra alguma.

- Você infringiu a lei do idioma interno e da posse nacional. Não pode vir aqui e amar nosso país mais que a gente! Não pode achar tudo lindo se já tem o seu país para amar! Não pode aprender palavras de nossa língua e arranhá-las com seu sotaque fortíssimo criando assim a interatividade cultural sem aviso prévio!

- É ou não é revoltante quando encontramos esse tipo de gente?! Puxou o saco, o assistente do delegado.

- Mas eu não saber de nada dessa lei...Tentou defender-se ingenuamente o estrangeiro.

- Você entende ou não minha língua, porra! Só responde quando quer?!

- É por que é uma lei interna – explicou o advogado.

- Ou seja, tem de ser de dentro do país para conhecer! Afirmou o assistente do delegado.

- Mas tem de ser de fora para infringir – Explicou novamente o advogado.

- Defesa nacional, bradou o delegado. Defesa nacional!

Que povo cruel - pensou o estrangeiro ao ser extraditado para seu país de origem – são tão ricos, não se dão conta e ainda reprovam quem tenta lhes mostrar isso.

O estrangeiro queria apenas um lugar para acrescentar em sua vida, mas não seria aqui. Nunca mais.

O Advogado foi destituído de seus poderes legais de defensor público por ter perdido um caso e por ter atendido um extrangeiro contra sua própria pátria mãe.

O Delegado foi homenageado internamente pelas forças competentes e se tornou um exmplo a seguir.

O Assistente do Delegado foi morto pelas forças competentes por ter sugerido que para casos como esse não se repetirem era necessário que o povo brasileiro amasse suas riquezas e vê-las como tal, e deste modo essa lei (que ele não encontrou em arquivo algum) não voltasse a ser violada.

A Queda de Meus Ícones - O Nascimento de Minha Iconoclastia Latente


A Barba - Para os babilônicos um sinal de virilidade e os egípcios os copiaram, mas de modo ponderado e artificial. Desde o início dos tempos a barba tem seu lugar no imaginário mundial. O sinal do Homem, e por isso que o Cristo tal qual o conhecemos tem uma barba castanha e farta (mas sempre arrumada) e por conseqüência outros heróis e mártires (como Tiradentes) também são retratados portando longas barbas. E daí a imagem do “pai padrão” estava formada.

Conheci meu pai apenas no meu aniversário de 7 anos e por conta dessa ausência e de minha imaginação pra lá de fértil já imaginei deveras vezes minha mãe com uma barba gigante... Algumas vezes até tranças tinha.

Pois bem, lá estava eu de frente daquele homem gigante de pele clara e olhos verdes com uma barba preta que faria inveja ao Papai Noel. Disseram-me se tratar de meu pai. Essa figura emblemática que só conhecia através de meus amigos e de minha imaginação fértil. Todos acharam lindo aquele encontro... Eu achava estranho, não sabia o que fazer e com tão pouca idade não tinha muitas opções a não ser seguir os palpites empolgados dos espectadores, ou seja, em menos de 15 minutos lá estava eu sentado no colo daquela figura misteriosa e estranhamente carismática que me apresentaram como PAI.

Como me espetava aquela coisa que ele carregava na cara. Eu era novo pra entender muita coisa, mas decidi naquele momento que nunca usaria barba! A imagem que tinha de pai era mesmo essa de homem alto, barbudo e com ar sério na maior parte do tempo e muito divertido nas outras partes do tempo.

É claro que estava completamente enganado.

Ele ficou pouco mais de uma semana e desapareceu por mais um tempão. O expulsei de minha vida, pois minha mãe (mesmo sem barba) tem tudo que eu poderia esperar ou querer de um pai.

Sobre a barba... Parte obrigatória de meu visual largado.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Triste Fim do Coelhinho Puff


Há um tempo atrás eu assistia um desenho animado (dentre tantos) que eu adorava. Era um daqueles feito mais para adultos que para crianças, mas pouca gente percebe (assim como O Pequeno Príncipe), refiro-me ao Ursinho Puff.

Atualmente, Pooh. O importante, porém é que eu o adorava.

Eu era o Bisonho, atualmente Ió (e este eu ainda adoro).

Encerrando, portanto minha deficiente introdução, vamos ao que importa:

Certa vez juntamente com meus irmãos e meu primo, ganhei um presente comum: um Puff, mas quiseram chamá-lo de Abel por se tratar de um coelho. Isso mesmo, meu Puff era um coelho!

Isso não era estranho pra mim porque meu vizinho tinha um cachorro chamado ‘Tigre’ que era o último remanescente da prole de outro cachorro chamado Lobo’.

“O que é um nome? Que não é mão nem pé, nem parte alguma pertencente ao corpo de um homem? A rosa, se tivesse outro nome não teria o mesmo cheiro?”
- Willian Shakespeare In Romeu e Julieta –


Adorávamos o Puff. Na época eu tinha por volta de 8 anos de idade e meu quintal tinha muito material velho, entre entulhos e móveis usados. A casinha de Puff estava no meio desses materiais: um fogão velho (não se assustem já tive um gatinho que morava numa gaiola... conto essa história em outra oportunidade).

Passamos muito tempo brincando com ele. Revezávamos através de sorteio as horas exclusivas e eu sempre passava o maior tempo com ele.

Ganhamos de minha tia que sempre dizia antes de ir trabalhar para não deixarmos o coelho solto no quintal para ele não fugir, se machucar ou ser atacado pelo Tigre.

Sempre obedecíamos, mas crianças não entendem bem a urgência nas palavras dos adultos e conceitos como “sempre”, “tudo”, “nunca”, “nada” e “infinito” acabam por ter verbetes flutuantes nas pequenas mentes. Atenção e concentração são características mais do que frágeis: hora barreiras impenetráveis, hora uma cortina de miçangas.

Um dia saímos todos para o supermercado e como era uma festa quando saíamos para os reinos de consumo. Tudo mais desaparecia da cabeça. Quando voltamos para casa Puff não estava no fogão / casinha e os adultos estavam cochichando e falando manso para gente.

O vizinho apareceu no muro com algo na mão e achando que ainda não havíamos voltado disse para minha avó:

- Ta aqui dona Izalina, já tirei e tratei o pezinho do coelho. Agora é só colocar no sol para secar que dá fazer um chaveiro da sor...

Nesse instante ele nos viu.

Nesse instante nós o vimos.

No instante seguinte corríamos todos para dentro de casa aos prantos pela morte do coelho!

Depois...

Minha avó contou que deixamos (eu deixei) o Puff solto no quintal e o tigre apareceu, mas ela não conseguiu alcançar o coelho antes do cachorro. Deste modo Puff morreu para as presas do tigre.

Choramos muito naquela manhã, mas tudo passa... Na hora do almoço já estávamos melhor até descobrirmos o que tinha para o almoço: farofa com carne de coelho!

Carne do Puff!!

Nunca esqueci de meus irmãos soprando farofa com seus soluços... Comíamos e chorávamos...

Tivemos muitas saudades dele, mas o bicho era gostoso de verdade...

Sentado no Porto

Certo dia falei pra mim mesmo que não havia muito para onde ir...

Daí me respoondi dizendo que lugares existem aos montes e a motivação é que estava em falta.

Encontrei o que me motiva, e você? O que te motiva?