domingo, 31 de agosto de 2008

Lembranças e Mordaças - 174 Sentimentos

Não defendo o banditismo.

Não fecho os olhos para a maldade humana usando como cobertura a máscara de "vítimas do sistema".

Não me posiciono contra ou a favor de ninguém.

Apenas escrevo o que me ocorre ser interessante.

Não tenho medo algum de me contradizer posteriormente - sou humano.

Desde que o faça escrevendo me dou todo o direito de mudar de idéia.


Este não é um texto jornalístico, portanto certas coisas serão suprimidas por falta de informação, pesquisa ou atenção. Segui essa linha por me parecer mais cinza.

Baseado no fato e no filme-documentário: "Ônibus 174" de José Padilha, 2002, Brasil.

Hoje a linha tem o número de 158.


***

‘‘ Sandro, o ‘Mancha’; Sérgio, o bandido – Nomes demais para um sentimento: solidão’’.




12 de junho de 2000, Bairro Jardim Botânico, Rio de Janeiro, Brasil.


Todos têm papéis sociais a representar, todos têm um status para manter ou alcançar, mas quando o sistema falha, se a correção não for imediata à solução se distancia da execução e assim o problema é lançado a esmo para longe da vista e sempre que se esbarra com ele o ignora, pois não faz parte de seu ‘’mundinho perfeito’’, isso se chama invisibilidade social; mendigos, meninos de rua, loucos, aleijados, todos, exemplos dessa reação em cadeia da repulsa social pelo que está alheio a ordem.

Assim era Sandro, o menino de rua, o inusitado, mas convenientemente seqüestrador. Mais uma mancha no frágil véu da ordem social. Menino de rua desde os 6 anos; não aprendeu a exercer muitos papéis: não aprendeu a ser aluno pois não tinha professor ou escola, não aprendeu a ser filho pois seu pai já era ausente quando viu sua mãe morrer na sua frente, não aprendeu a ser cordeiro pois não se propuseram para pastor daquele rebanho de infelizes; mas aprendeu a ser bandido pois tinha a polícia para rotulá-lo e tratá-lo como tal, aprendeu a ser menino de rua pois não tinha casa para ele, sua família era apenas mais uma mancha de seu passado...o único que lembrava ou o único que não conseguia esquecer.

Morte da mãe
Casa grande demais sem ela
Ninguém era ela
Rua
Ninguém tenta ser
A dor deve ser menor
Fuga
Não é menor
Insegurança
Medo
Noites de vigília
Silêncio
Solidão
A rua acolhe a todos

E de repente num dia comum aconteceu de ir fazer um roubo incomum, que gerou uma situação rara... E ele viu ali sua única chance.

O bandido mantém os passageiros do ônibus 174 (Central - Gávea) de reféns, a polícia está do lado de fora, e desde o início, contida pela presença das câmeras de TV. É estabelecido um contato com a mancha daquele dia bonito. O Mancha ganha um nome: Sérgio, mas ele já tem um nome – Sandro – no entanto o negociador lhe impôs este personagem, deu-lhe individualidade, mas logo a roubou fazendo dele outra pessoa... Isso não tinha tanta importância naquele momento, pois sabia que os atos eram seus e isso já bastava para que se sentisse bem, estavam realmente olhando para ele, não o estavam ignorando como no dia anterior e em todos os dias anteriores aquele. Ele estava sendo visto, e apesar de nervoso, confuso, e com um comportamento compulsivo; ele estava adorando.

Se ele estava sobre o efeito de drogas no início do crime? Não importa. Não seria surpresa, não é mesmo? Não se tem muitos meios de esquecer-se nas ruas que não entrando em sua mente e transformando tudo em felicidade; para eles é o único modo de ficar feliz sozinho ou encontrar algo bonito dentro de si, um ponto de fuga... Mas isso também não importa por que ele é um bandido! Bandidos usam drogas, não é mesmo?

Tanto choro, tanto medo, já não dava para voltar atrás, estava apenas cumprindo seu papel de bandido, assim como a polícia o seu papel de garantir uma solução para a situação, a imprensa o papel de exibir tudo do modo mais sensacionalista e vendável possível, e o povo em volta, fazendo o papel de povo: revoltado, mas contido; impotente.

‘‘ Ei, você é estudante?’’
‘‘ Sim, sou. ’’
‘‘ Então vai que você deve estar atrasado para a escola. ’’

Ele sabia a importância dos papéis sociais, não na teoria como nós, claro, mas ele sabia como era importante estudar coisa que não fez, não teve chance; sem família, sem educação, sem trabalho, cheio de lembranças vívidas da morte de sua mãe, de como a polícia pode ser covarde e letal assim como foi na "chacina da Candelária" em que ele estava presente, mas conseguiu sobreviver e do inferno que era e ainda é a prisão neste país: os maus tratos, as agressões, as humilhações, o terrorismo psicológico... Não, com certeza ele não iria voltar para lá, mas também não parecia preocupado em buscar meios de fugir daquela situação no ônibus, não ainda...

Era seu momento e seu personagem deveria brilhar; ameaças, tiros para o alto, ofensa à crença das pessoas quando se dizia vinculado ao Diabo. Sabia que assim olhariam mais para ele.

‘‘ Sabe quem é a maior vítima disto aqui? Você’’. Uma moça disse para ele.

Não exigiu nada, já tinha tudo ali: atenção, poder, adrenalina e a certeza de que cumpria a promessa que fez a sua segunda mãe: ‘‘ Eu vou ser famoso’’.

Segunda mãe? Como assim?

Ele encontrou uma senhora que conseguiu não ignorá-lo. Ele deve ter relutado, mas acabou por se aproximar e resolveu experimentar o que era ter uma mãe, um lar, uma vida reta, enfim, sentir-se em casa de novo. Descobriu que o tempo deixa marcas que só o tempo pode sanar: depois de tantos anos dormindo ao relento nas calçadas, ele de novo sentiu-se Sandro, o menino, no entanto, não conseguia mais dormir numa cama, algo rapidamente resolvido; a insegurança lhe obrigava a ficar com a janela aberta para uma fuga iminente e para não sentir-se novamente trancafiado numa prisão. Era difícil crer que tudo aquilo fosse verdade, difícil demais.

O número de fotógrafos e repórteres crescia e com isso sua sensação de segurança também, afinal quem atiraria nele com as emissoras de TV transmitindo tudo ao vivo? Aquele povo todo queria um show e era isso que ele daria, era o personagem principal de uma "novela" que ele ia "escrevendo" e fazendo acontecer ali ao vivo; mesmo porque, é difícil exigir que alguém como ele obedeça as leis e normas de uma sociedade para a qual ele não existe, então ele gritava, xingava, ameaçava e obscurecia aquele dia outrora bonito. Ordenou que os passageiros chorassem, gritassem e fizessem um drama ainda maior do que já lhes parecia, pois quanto maior o medo que ele parecia impor dentro do ônibus, maior o medo e a raiva fora dele, principalmente a raiva, mas ele acreditava que o medo fosse maior, o que aumentava seu já garantido poder.

Prometeu aos passageiros que não mataria ninguém, no entanto seria mais intenso assim... Simulou um assassinato em frente às câmeras, atirando para baixo logo depois de obrigar uma das passageiras do ônibus a deitar-se no chão. A não ação da polícia criava um clima ainda mais tenso, inclusive entre os policiais, que queriam agir e se achavam prontos para tal, mas a ordem não vinha, pois o líder da operação seguia ordens ‘‘de cima’’, pode ser esse um dos motivos para os sucessivos erros por parte da policia: um descaso com o cerco de segurança para evitar que a população e a imprensa se aproximassem demais... Muita coisa para se pensar.

Mudança no roteiro; estava tarde e algo precisava ser feito ou nunca sairia de lá, então foi o que fez: sem nenhum aviso prévio ou sinal de que ia fazê-lo, pegou Geisa (20 anos), seu único desafeto dentre os passageiros e desceu do ônibus com a arma apontada para a cabeça dela. Os policiais não esperavam isso e pareciam meio perdidos. Bastou um erro para que a moça fosse atingida na cabeça a queima roupa por um policial ao vivo pela televisão!

Comoção geral. O ápice da história de Sérgio, interpretada por Sandro, ele foi contido, não antes de atirar algumas vezes tentando atingir os policiais, mas os tiros atingiram a moça. Ele foi linchado, pois o deficiente pseudo cordão de isolamento não conteve a fúria do povo. Todos queriam ‘‘um pedaço dele’’, queriam rechaçar o Diabo, se livrar do medo matando seu algoz. O show acabou ali, pelo menos para Sandro que morreu no camburão frente às câmeras em nome de Sérgio – seu personagem, sua máscara - para que o Brasil todo pudesse ver.

Foi morto pela polícia, pelo ódio que emanava naquele lugar. Era um policial quem lhe apertava o pescoço até morrer, mas é como se todos os presentes o estivessem fazendo.

Nossa sociedade cresceu territorialmente com o derramamento de sangue indígena, desenvolveu-se com o sangue do trabalho escravo e ainda hoje depois de alcançar o espaço e se orgulhar tanto da racionalidade do homem, ainda se vê carente do derramamento de sangue para sentir-se bem e fazendo justiça.

‘‘Uma má ação não equilibra nem justifica outra’’



sábado, 30 de agosto de 2008

Certas Lições São Pra Sempre - O Tempo Não Espera.


Há muito tempo numa cidade serrana do interior nasceu Bernardo, filho primeiro de um casal já de idade avançada: ela 49 ele 53.

O povo se assustou ao saber dessa gravidez. Especularam coisas e mais coisas, mas eles foram firmes e mantiveram sua postura.

ELA - Desde que a gente se conheceu que queremo um filho.

ELE - Não há coisa mais bunita no mundo que deixar sua marca pro futuro através dum fio.

ELA - A idade num importa quando se quer muito uma coisa! Você pede a Deus e continua tentano que um dia você cunsegue! Pede a Deus gente. É só pedir!

ELE – É só pedir. E por falá em pedir, vocês podi ir embora agora pra gente cuidar de nosso Bernadinho?!

...

O tempo passou rápido pra esses dois desde então. O peso dos anos se fez presente sem clemência e antes de Bernanrdinho completar 10 anos sua mãe morreu do coração.

Foi uma perda muito forte pra essa família e para aquela comunidade. O pai teve muita força pra não se matar nos meses que seguiram a isso.

Esforçava-se muito pra não reclamar das dores que sentia em silêncio graças a um tiro que levou quando mais novo em uma briga de bar. A mãe cuidava muito bem disso com um chá e uma massagem... Mas a mãe não estava mais ali.

Não era fácil estar velho e morrendo e saber que não verá seu filho terminar a escola. Seu filho. Seu único filho.

Sua marca no mundo!

Esse pensamento fez algo mudar no interior desse pai. Ele ficou severo da noite para o dia. Aquele tiro no passado apagou seu futuro. Não queria morrer e deixar uma criança no mundo sem chances de sobreviver. Transformou aquele menino num pequeno homem!

Ensinou a ele tudo que julgava importante, tudo que sua mãe gostaria e ele achava que daria tempo de terminar, mas o tempo não espera certas lições...

PAI – Sabe Bernardo – Bernanrdinho não existe mais – Você é um orgulho pra mim e pra sua mãe...

BERNARDO – Obrigado pai – respondeu o rapaz com seus vívidos 17 anos ao pai moribundo no sofá – Tenho orgulho de vocês tam...

PAI – Num terminei porquera! Eu quero que você faz uma coisa pra gente...

BERNARDO – O que é pai; é claro que faço.

PAI – Eu quero que você junta suas troxinhas, pega o dinheiro dentro do pote dos grampo de sua mãe e vai embora pra cidade!

BERNARDO – Mas pai... Como assim?

PAI – Me ouve moleque!

Bernardo lacrimejou. Sentia falta de ser chamado assim.

PAI – Eu te dei tudo que eu e sua mãe num tivemos. Tudo que a gente pudia te dava. Tudo! Aí sua mãe morreu... Deus levo ela, fio. Te tirei sua criancice pra agüentar quando esse dia chegasse e esse dia chegô então eu quero que seje homem! Você era novo quando viu sua mãe morrer e num quero que me veja morrer também não! Quero que você vai embora pra cidade, pra terminar de estudar e ser alguém! Nem precisa ser dotor se num quiser, mas tem de estudar, moleque! Eu e sua mãe vamo ta olhando pra você todo dia.

Bernardo rendeu-se ao turbilhão de lágrimas que imploravam para sair de seus olhos jovens.

PAI – Pode até chorar, mas tem de ir embora! Anda! Anda! Vai!

Mesmo sem forças ou vontade o rapaz começou a juntar as poucas mudas de roupa não rasgadas ou remendadas que possuía... Aquilo não poderia estar acontecendo. Não poderia!

PAI – Mais triste que isso que to fazeno é ter tirado sua criancice. Me promete que vai ter fios e dá eles todo amor e liberdade pra ser criança enquanto tiver que ser. Me promete? Me promete que eles vão ser só criança até a hora de virar adulto?

O rapaz respondeu que sim entre lágrimas, mas só lembraria dessas exatas palavras muito tempo depois, por que agora a única coisa que lhe passava pela cabeça era por que não conseguia desobedecer a essa ordem...

Por ser a última.

PAI – Então sai daqui fio. Vai embora. Vai ser homem de verdade na cidade. Dá orgulho mais ainda pra eu e sua mãe. A gente te ama fio... A gente te ama!

Ouvir seu pai dizer que o amava como se sua mãe estivesse sentada ao lado dele fez Bernardo sair correndo! Queria explodir de dor e não queria que seu pai visse que seu jovem homem – sua marca no mundo – chorava como uma criança abandonada...

Saiu tão afoito que não disse um adeus a seu pai então acordou a todos da cidadezinha com seus gritos dolorosos...

BERNARDO – PAI EU TE AMOOO! MANDA UM BEIJO PRA MÃE! DIZ QUE EU TENHO SAUDADE! VOU SER O HOMEM QUE QUERIAM!! EU TE AMOOO! ADEUS! ADEUS!!

E as pessoas iam aparecendo nas janelas à medida que ele atravessava a cidade aos gritos. Suas lágrimas nunca serão esquecidas por quem cruzou por ele naquela noite.

O povo sabia que o pai não demoraria a morrer, mas nunca se está pronto realmente para isso.

E mais triste que ver o rapaz gritando adeus ao longe foi ver o velho sussurrando adeus antes de fechar os olhos afogados em lágrimas...


***

A criança se aproxima da mãe com um olhar curioso e ingênuo:

CRIANÇA – Mãe por que o vovô decidiu ser policial e não médico que nem o papai?

A mãe engoliu a seco, respirou fundo e respondeu:

MÃE - Por que sim menino. Pra ajudar os outros...

CRIANÇA - Que legal!

MÃE - Seu avô é um homem muito bom e sofrido meu filho...

CRIANÇA – Sofrido? O que é isso mamãe?

Ela olhou para a foto de seu pai na parede ao lado. Suspirou pensativa e finalmente respondeu:

MÃE – Coisa de adulto filho. Um dia eu te explico. Vai brincar vai... Vai ver o que sua irmã está fazendo...




sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Umpa Lumpas Também Casam


Fui a um casamento ontem a noite.

Pela manhã minha (até então) namorada chegou em minha casa e não dei bola por que estava com sono e com voz e hálito de dragão. Ela foi ao salão com minha mãe e eu a ignorei.

O casamento era de um amigo de serviço de minha mãe, todavia, antes delas voltarem minha tia ligou avisando que um de meus tios estava no hospital e queria que minha mãe fosse lá – o que acabaria com a história de ir ao casamento – avisei.

Ela foi.

Nós ficamos de sobreaviso.

Quando minha (até então) namorada chegou do salão ela estava com a bunda azul, pois encostou numa parede com tinta fresca.

Meu tio teve melhora e minha mãe ligou para nos arrumarmos enquanto ela voltava. Dito e feito

Perdemos um ônibus na cara.

Ficamos uma cara esperando outro.

No caminho p lá um carro dirigido por uma mulher ultrapassou o ônibus que estávamos e adivinha? O ônibus bateu nela.

Descemos todos e ficamos a beira da estrada.
A mulher é uma coroa evangélica escrota...
Foi engraçado!

Daí fomos reconduzidos a outro ônibus e uma rua antes do terminal rodoviário tem uma linha de trem e justo na nossa vez passa o trem...

GIGAAAAAANTEEEEEEEEEEE

(primeira vez que vi um trem... Cansei de ver)

Quando chegamos no terminal vimos que o segundo ônibus que pegaríamos tinha acabado de sair e o perdemos por esperar o trem

Quando chegamos lá descobrimos que o homem que ensinou o caminho era meio doido por que disse que demoraria umas duas horas do terminal até o local e levamos vinte e cinco minutos, ou seja, chegamos uma hora antes e a igreja ainda estava fechada por que dada essa informação – que demoraria umas duas horas - saímos bem cedo de casa.

Foi um porre.

O pastor (o casamento era evangélico ainda por cima) se alongou horrores!


O pastor disse a palavra "mistério" em seu discurso de casamento umas 368 vezes e observei que lá tinha muita gente jovem - no máx 40 anos - e muita criança. MUITA!

Concluí que:
O pessoal lá casa pra fuder.

O noivo tinha 21 e a noiva 16
Namoram um ano, casam e enchem o mundo de bacurizinhos pra casar antes de terminar a escola.


Putz!

Daí depois do pastor concluir seu sermão com o 368º mistério fomos a festa, mas não poderíamos demorar por lá, pois minha irmã tinha que trabalhar no dia seguinte e demora para chegar em casa visto a demora para chegar até lá. Ela só lembrou disse neste momento da jornada.

O local da festa ficava a umas 9 quadras de distância: entrando por ruas, becos e vielas, por entre terrenos baldios e escombros de construções públicas da prefeitura; tinha até um circo ferrado no caminho!

Os meninos - muitos deles - queriam ir mexer com o leão velho - eu dei o maior apoio e incentivo, mas alguma mãe os impediu.

Chegamos lá.

Uma quadra esportiva era o salão de festas!

Não tinha mais mesas vazias então nos sentamos numa mesa com pessoas desconhecidas próximo ao balcão.

Seriamos a primeira mesa a ser servida e quem eram os garçons?

Os Umpa Lumpas, claro!. Digo: um monte de crianças de 10 anos de lá.

Correção: Namoram um ano, casam e enchem o mundo de bacurizinhos pra casar antes de terminar a escola e servirem de garçons nos casamentos de seus coleguinhas mais velhos enquanto sua hora não chega.

Detalhe: a nossa seria a PRIMEIRA mesa a ser servida.

Veio um menino segurando uma bandeja com dois pratinhos de salgados.

Ele colocou o primeiro dos pratinhos sobre a mesa e com o desequilíbrio que causou: a bandeja virou e os salgadinhos caíram no chão e no colo da minha mãe!

O menino ficou paralisado.

Nós da mesa dizendo: "sem problemas", "fica tranqüilo" e coisas assim (eu na verdade não esperava hora dele sair de perto pra poder rir) e ele simplesmente congelou.

Estado de choque

Uma mulher veio e o levou para dentro do balcão. Depois disso ele sentou com algumas pessoas num canto e não "serviu" mais...

As mulheres com quem dividíamos a mesa fizeram terrorismo psicológico na minha mãe e irmã que logo se apressaram em ir embora com receio da paralisação dos ônibus...

Ou seja, comi pouquíssimo em relação ao que queria e esperava!

Ódio!

No ponto de ônibus apareceram umas 8 piriguetes

As gurias não tinham nem 15 centímetros de saia... O pior de tudo é que eram feias com força - só tinha 2 interessantes, mas idiotas sem esforço - E ainda assim levei um beliscão de minha (até então) namorada por reparar demais - por 2 segundos!

Já no ônibus da volta pra casa aparecem duas meninas vendendo doce com seu discurso ensaiado e mal executado e depois um cara drogado cheio de mãos e olhares. Eletrizado, com certeza cheirou coca.

Em suma foi isso o meu programaço de ontem

Desventuras em série... Faltou me usarem de personagem nesses livros...

Tive de passar numa lanchonete ao descer do ônibus por que como todo bom pobre que sou fui ao casamento sem jantar para conseguir comer mais.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Torres Brancas - Importância Histórica


Torres, o historiador e escriba local preparava-se para uma festa importante que só iria pela necessidade profissional de ter contatos.

Depois de finalmente decidir-se por não desistir de mais essa oportunidade de mostrar seus escritos, pára em frente ao guarda roupa, fita seu interior por mínimos segundos e retira toda a muda de roupa que usará mais a noite...

Veste-se e se vê enlaçado por longo tempo na frase escrita no espelho de sua cômoda: “durmo para revigorar, sonho para viver e acordo para sofrer”.

Sentiu vontade de voltar a dormir para que logo viessem os sonhos... E foi no desenvolver deste pensamento que Germano entrou em seu quarto pela janela, com uma garrafa de vinho barato na mão.

Germano – Preciso de você.

Torres – Hoje não posso.

Germano – E por que não?

Tores - ...Um jantar... É importante!

Germano – Meus motivos também são importantes, oras!

Torres – Vou falar de minhas descobertas...

Germano – Você as concluiu, por acaso? A história não pára caro amigo! Ela é velha, mas não morrerá se demorar mais algumas horas antes de mostrá-la ao mundo...

Torres – Por que você sempre aparece nos momentos mais... Mais... Impróprios?!

Germano - Hoje cheguei no melhor dos momentos. É você quem vai fazer a gente se atrasar! Será breve. Te juro! Você vem ou não?

Torres – Tudo bem.

Saíram ambos pela janela. Germano conduziu Torres até o meio da estrada principal que não tinha movimento algum.

Germano – Chegamos!

Torres – O que tem de mais aqui? Pra que precisa de mim?

Germano – O que tem de mais aqui é um céu gigante acima de nós e uma cidade fedida, pequena e mal iluminada que acolhe nossas vidas miseráveis com prazer! E para quê preciso de você? Essa é mais fácil ainda: você é o historiador, e hoje é a primeira vez na história do mundo que alguém bebe vinho no meio da rua mais movimentada de sua cidade sem nenhuma carruagem ou charrete por perto, debaixo da primeira chuva de outono acompanhado de seu melhor amigo!

Torres – Não acredito que me trouxe aqui para uma tolice dessas! E eu me dei o trabalho de vir...

Torres virou às costas e começou a andar quando os primeiros pingos de outono caíram em seus ombros... Ficou imóvel...

Em poucos segundos a chuva estava forte e ensopou sua roupa... Ele não fez esforço para fugir dela, apenas esticou um dos braços para trás e disse:

Torres – Dá cá um gole desse vinho, vai...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

As Aventuras de Lady Steff - Papi & Mami


Como sabem, crianças, toda história começa com “era uma vez”, mas não essa, pois essa história não era uma, mas foram muitas vezes, está sendo agora e ainda não deixou de ser...

Vou contar para vocês a história de uma menina que atravessou o mundo para ajudar seus pais, uma menina que conheceu lugares, coisas e pessoas diferentes e fantásticas, uma menina que correu alguns perigos, mas nunca desistiu de seu objetivo. Já devem ter ouvido várias histórias desse tipo, mas acredito que dessa vez se verão em pelo menos uma das aventuras de nossa heroína.

A nossa história começa num mundo mágico chamado Fancia. Um lugar onde as pessoas são felizes e os sonhos estão mais perto da realidade. E como em quase todo mundo mágico das histórias tem um rei ou uma rainha, nessa também terá, mas não apenas um e sim nove reis e rainhas.

Falarei de cada um mais tarde, no momento o que nos interessa é o rei Fammy e a rainha Lia governantes do reino de Meular. O rei Fammy tem muitos filhos, mais de trinta! Acontece que apenas dois são príncipes filhos da rainha Lia, os outros são adotados e moram em seu castelo. O mais novo chama-se Val e o mais velho chama-se Lar.

O príncipe Val desde cedo aprendeu a trabalhar na cozinha com sua mãe contra a vontade do pai que dizia que nem a rainha e nem o príncipe deveriam cozinhar, pois eles tinham muitos empregados para isso, mas eles gostavam muito e teimavam. O príncipe Lar desde pequeno se interessou por construção de castelos e queria ser engenheiro. Eles treinaram tudo que um príncipe deve saber: cavalgar, portar-se à mesa, usar uma espada, uma lança e um arco e flecha, falar várias línguas, conhecimento de política e algum conhecimento artístico. Em pouco tempo os doces do príncipe Val ficaram conhecidos em todo reino e as construções do príncipe Lar eram elogiadas pelos melhores engenheiros, arquitetos e construtores de Meular.

Um dia Val se apaixonou por uma moça chamada Ciana e começou a visitá-la escondido de todos, ela gostava dele, mas não sabia que ele a amava.

Um dia aconteceu um torneio de arco e flecha, e o prêmio para o vencedor era: cinco moedas de ouro e um beijo da mulher que ele escolhesse, só era proibido escolher a rainha.

Val nem gostava muito de arco e flecha, mas entrou no torneio por que se ganhasse escolheria a Ciana para dar um beijo, então se ela gostasse a pediria em casamento ali mesmo na frente de todos!

Ocorreu que Lar também entrou no torneio, e ele era muito habilidoso com o arco e flecha. Logo foi deixando os concorrentes para trás e quando só havia mais um concorrente o povo todo se aproximou para assistir, pois era seu irmão Val!

Foi pendurada com uma corda uma fileira de dez pratos um atrás do outro; venceria quem atravessasse mais pratos com uma única flechada.

Val se preparou o máximo que conseguiu e disparou... ZAPT! Ele quebrou sete pratos com uma flechada só e Lar sem se esforçar muito, pois se achava muito melhor do que seu irmão e não queria humilhá-lo demais, atirou a flecha e quebrou oito pratos. Uma vitória justa.

Lar montou em seu cavalo real e começou a cavalgar entre as pessoas do reino em busca da mulher a quem iria beijar... E parou bem na frente de Ciana.
- Não, ela não! Gritou o príncipe Val.
- Por que não? Perguntou o príncipe Lar – É meu direito de campeão.
- Mas não pode ser essa moça, escolha outra, por favor, meu irmão.
- Não farei isso a menos que nosso pai ordene que troque minha escolha – decretou Lar – e então meu pai, meu rei... Devo mudar minha escolha para agradar o mimo bobo de meu irmão?
- Não. Qualquer marido ou irmão aqui deveria se calar caso sua esposa ou irmã fosse escolhida pelo campeão, não vejo justiça em mudar só por ser o desejo do príncipe Val... Vá em frente pode beijar esta jovem que escolheu.

Nesse momento; Val rápido como um raio derrubou seu irmão do cavalo, montou, puxou a jovem Ciana para cima e fugiu a galope.

Voltou um mês depois para avisar ao pai que havia se casado com a moça em outro reino, pois a amava muito.

O rei já sabia, mas não poderia ir contra as leis que ele mesmo havia criado: o príncipe deveria deixar Meular e deixaria de ser um príncipe. Quando estava indo embora sua mãe o chamou em seu quarto e deu a ele um presente: um Colar da Casa Real, esse colar identificaria quem o usasse como filho do rei Fammy, onde quer que esteja. Ela acreditava que isso o protegeria das necessidades que poderia passar.

Então Val, o ex-príncipe, decidiu não usar o colar a menos que fosse mesmo necessário, ele e Ciana foram para o reino de Pergun, onde tiveram uma linda surpresa. Uma filha que resolveram chamar de Steffani, e que mais tarde seria conhecida por nós como Lady Steff.

***

Essa é mais uma história introdutória de mais um de meus projetos. Histórias para serem lidas por pais e mães a seus filhos. Um resgate a esse hábito que nunca tive, mas que muito admiro e defendo.

São metáforas singelas que incitariam conversas sobre temas mais complicados e menos complicados com certas crianças... Em suma este texto é apenas a introdução da história dessa pequena aventrureira. Veremos se posto o restante.

Abra bem os olhos e sorria, pois ainda é possível fazê-lo.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Torres Brancas - A Concubina Lua



A lua brilhava como nunca antes e dançava serelepe naquela poça d’água que ninguém mais além de Torres perceberia... Ele estava cercado por seus amigos nas escadarias do templo como faziam quase todas as noites...

Diógenes tocava o bandolim, Dalva cantava, Rico ouvia e fazia piadas sobre o mundo, Walace ouvia a música e ria das piadas de Rico, Germano apenas estava ali... Ouvia, cantava, tocava, ria, declamava poemas e discursos que poucos além de Torres queriam ouvir, ele se fazia presente, mas era invisível em silêncio...

Torres – O silêncio não é sinônimo de invisibilidade...

Germano – Eu sei, mas foi você mesmo, velho amigo, quem me abriu os olhos para isso... Posso ser requisitado, convidado e até lembrado, mas minha presença me deixa invisível!

Torres – Já viu a lua?

Germano – Qual delas?

Torres – Como qual delas?

Germano – Quero saber se está se referindo a sentinela do céu ou a concubina da poça d’água, mas em todo caso vi as duas.

Torres pasmou por um mínimo instante que lhe pareceu uma vida inteira pensando em como alguém mais poderia em meio a tanta agitação notar algo tão singelo que só ele contemplava como ponto de apoio e fuga.

Torres – Sabe que às vezes você me confunde?

Germano – Sei sim, me confundo também, portanto não me surpreendo que outros o façam. Mas está se referindo a quê exatamente?

Torres – Como alguém pode ser tão próximo e distante de algo ou alguém ao mesmo tempo? Parece-me que você não se importa muito com algumas coisas... Algumas pessoas...

Germano – Eu não sou a lua, amigo, mas assim como ela: sou um só; O modo que se olha que é diferente. Não sou especial se você não quiser.

Torres – É eu sei.

E Torres levantou-se pisando na poça d’água. Desceu a escadaria e partiu.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Início Falastrão


Penso coisas que se vão por ganhar força e me acharem pequeno demais para acolhê-las.

Sinto coisas que se vão por eu não entender ou não gostar de sua presença.

Digo coisas que se vão pura e simplesmente por que poucos se dispôem a ouvir ou eu pouco me disponho a resgatá-las...

Faço coisas que se vão, pois pouco que se faz fica ou volta.

Penso, sinto, digo, faço e ainda assim tudo se vai...

Ok. Sou teimoso, atribulado, falador, calado, platéia e palestrante, debatedor e apaziguador, homem, menino, velho (sobretudo velho), irriquieto e observador.

Não busco razão sempre no que digo, mas sinto-me no dever de dizer algo sempre. Perco muitas chances de ficar calado e a criação deste espaço é um ótimo exemplo de eu perdendo mais uma chance dessas!

Aqui postarei poesias (feitas especialmente para este espaço, pois as que já tenho pretendo publicar em um livro... um dia), postarei contos, receitas de inutilidades públicas, desabafos e confidências (mesmo achando que acabei de ser pleonásmico). Este será portanto um espaço para dizer. Não importa o quê. Apenas dizer.

Mas é também um espaço de teste. Meu primeiro blog. Não seria o primeiro e nem seria o último blogger a apagar o espaço de uma hora pra outra por que tropeçou duas vezes no mesmo dia ou qualquer motivo pífio e misterioso... Tá bom, eu não sou misterioso.


Abra bem os olhos e sorria, pois ainda é possível fazer isto.