sábado, 29 de novembro de 2008

Trilogia Ébria (Parte 3) – Ébrio e Sóbrio?


Hoje me sinto bêbado de felicidade e não de álcool

Na que este não fosse acessível

Apenas acordei assim

Alegre

Só espero que nesse caso não tenha ressaca, pois não quero derramar lágrimas

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Velho eu? Agora não!



Ao ler alguns comentários em outro de meus textos (9 MESES BRANCOS) notei que muitas pessoas têm uma relação diferente com o termo “velho” e a idéia de envelhecer. Numa conversa com um amigo decidi então escrever sobre isso e até salvei algumas de suas frases, mas agora mais de um mês depois, quando finalmente me pus pra escrever tal texto, ao ler as mesmas frases que guardei, me senti no caminho oposto. Eu assumo ser o que sou! Eu sou albino, gordo, obstinado, ainda jovem mesmo me sentindo um senhor de 76 anos num corpo de 24 às vezes, mas sei que quando chegar a minha vez eu vou querer dizer: já passei por muita coisa nessa vida, meu filho... Eu sou macaco velho! Mas até pra introduzir eu me alongo então vamos as tais frases:



“Velho é objeto usado, não pessoas. Pessoas não ficam velhas, e sim experientes na vida”.

“Ninguém é velho (usado) eu irei envelhecer, mas nunca irei ficar velho”

“Olha sua idade pra minha: eu tenho 31 e a sua é apenas 24. Eu sou mais velho? Não. Tenho mais idade!”

Conheço pessoas que tem tanto medo de ficar velho que ficam arrumando desculpas lingüísticas para fugir dessa condição. Desculpe meu amigo, mas você tem mais idade que eu e isso faz de você, portanto MAIS VELHO sim senhor!

Ter mais idade está anos luz de distância de ter mais experiência. Uma carola de 68 anos que passou a vida de casa para a igreja e para as quermesses nunca poderia rivalizar com uma menina de 12 anos que mora num trailer e trabalha no circo de sua família desde lavando a lona, trabalhando na bilheteria até voando pelo trapézio e viajando a cada 20 dias; ou ainda um rapaz de 20 anos que faz intercâmbio cultural em outro país! Nunca! Experiência se adquire com vivência de diferentes situações meus caros...

Mas voltando ao tema eu não queria envelhecer quando mais novo. Melhor: eu não queria ficar velho. Desejava seriamente morrer antes de ficar velho e começar a dar trabalho sem se dar conta ou ainda me tornar chato como aqueles de quem ria quando mais novo... Cheguei a pensar que se continuasse a viver como estava, morreria de velhice aos 45!

Hoje isso mudou. Não o fato de dar trabalho sem se dar conta, mas o fato de não querer, ou simplesmente me importar com isso. Quero ir até onde der. Se eu viver muito azar do mundo, pois serei um velho chato – não sei ainda o que precisamente me motiva essa afirmação... Pode ser o fato de já me achar um jovem chato, mas deixo as conjecturas para fora deste texto.

Envelhecer é triste, pois aproxima do fim do ciclo natural da vida até o mais atentado... Mas preciso ainda ter um filho (predileto assumidamente uma menina, mas além de ser cedo para falar disso, não sou eu quem lança os dados das probabilidades universais...), plantar uma árvore (tenho duas sementes especiais para isso; presente de um amigo quando falávamos disso), escrever um livro (tô na labuta pra essa parte) e por fim tenho de ter conhecido pelo menos 4 estados de meu país quando não algum outro país.

Isso não quer nem de longe dizer que feito isso posso morrer e tchau, mas quer dizer que já terei bagagem o bastante para não precisar negar essa parte da vida. Novidade para algumas pessoas: morrer faz parte da vida!

Todavia não se controla nem o inicio e nem o fim, somente o meio. Somos donos do meio, a vida acontece aí e quando esse meio já tá mais pra 9/10 tem que se aproveitar como dá...

Os olhos falharão? Então comece a exercitar a imaginação e o tato desde já.

Os ouvidos falharão? Comece a dar valor a certos sons maravilhosos e palavras especiais: “Oi’, “obrigado”, ”por favor”, “como você está?” Será muito úteis e mais prazerosas ainda de ouvir mais tarde.

Os passos se farão mais lentos e pesados? Aproveite a leveza do agora para correr um pouco. Ande mais. Se for possível o faça descalço na terra de vez em quando e lembre dessa textura, deste toque frio e do cheiro da terra molhada, pois dirão mais tarde muito mais do que você queria lembrar...

A memória falhará? Não precisa ser assim se a exercitá-la desde já. Jogos, brincadeiras, canções, não importa...

E o que importa? Cultive as amizades, pois longas tardes de conversa lhe parecerão mais agradáveis do que agora. Pode ser a única coisa pra fazer por muito tempo, então que seja com alguém que goste e tenha afinidade. Comunique-se mais. Se abra mais.

Sorria mais, pois ainda é possível fazer isso.


quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Tapas da Vida - As Alianças

Existem momentos em nossas vidas - pelo menos na minha - em que ocorrem abordagens inusitadas apenas para me lembrar de algo que estava me escapando aos olhos naquele momento - quase como um tapa mesmo:"Ei, acorda! Olha o mundo girando!"
Dividirei alguns destes momentos com vocês a medida que for me lembrando deles... Ou a medida que for inventando...

Estava eu trabalhando numa exposição, caracterizado de cientista. Certo dia apareceu um menino perto de mim, me regulou de cima abaixo, parou na altura de minha mão e perguntou:
- O senhor é casado?
- Não – respondi.
- Então por que o senhor tem uma aliança? Insistiu o menino.
- Por que tenho uma namorada.
- E daí?
- Eu gosto dela...
- E daí? Se o senhor não é casado com ela não precisa usar aliança!
- É que ela mora longe e eu tenho muitas saudades dela.
- E daí?
- Daí que quando tenho saudade, olho para a aliança e dou um beijinho. Depois disso é como se estivesse de mãos dadas com ela.
- Ah ta. Brigado tio.

E saiu correndo. O acompanhei com os olhos e o vi abraçar uma mulher – muito provavelmente sua mãe – a apertou, beijou sua mão e não largou mais. Saiu dali de mãos dadas.

Primeiro quis chutá-lo para longe, mas depois agradeci por ele ter aparecido apenas para reforçar o que eu já sabia...

Sorria, antes que a vida lhe dê um tapa também...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Capítulo Osasco (Parte 1) - A Viagem



Namoro à distância tem alguns complicadores: a distância, por exemplo.

Tudo se amplia quando se está longe. E como não ter defesas para nada: a saudade, a raiva (quando ocorre), o ciúme (como ocorre...), o respeito, os planos...

Dessa forma algumas precauções devem ser tomadas para o perdurar de uma história assim. Tenho 9 meses de namoro à distância e na minha cabeça; nada mais natural que querer apresentar nossas famílias, uma vez que pretendemos nos casar um dia (deixo essa parte em off para outra ocasião) e ela já conheceu a minha... Eu devia levar minha família até ela.

Moramos em estados diferentes e não temos muitos feriados à vista...

Dane-se!

Ela faltou serviço e faculdade, podemos, portanto retribuir o sacrifício: Eu interrompi minha rotina de ensaios (estou numa montagem teatral para dezembro), minha irmã interrompeu seu curso de eletro-sei-lá-o-quê, e minha mãe faltou a alguns dias de trabalho.

Convictos nessa idéia então se iniciaram os preparativos e depois de um longo período de preparação lá estava eu na véspera da minha viagem, aliás, não foi uma preparação tão longa assim; pelo menos a minha parte: depois de comprar meias novas era preciso apenas uns 40 minutos para arrumar a mala e conferir tudo umas 248 vezes em câmera lenta...

Mas eu não ia só e aí sim começam os embates com o tempo. Ia com duas mulheres (minha mãe e irmã) e não quero ser alguém machista nem nada assim, mas puxa vida como elas conseguem levar tanto tempo para fazer coisas que para mim na condição de homem acho simples e como têm a capacidade de enfiar tanta coisa em tão pouco espaço? E como se abarrotar um volume já não fosse o bastante... Elas não acham o bastante e arrumam mais volumes para abarrotar!

Eu me viraria com uma mochila e se muito uma sacola plástica; elas precisam de 2 malas, uma bolsa, mais as bolsas particulares, mais algumas sacolas... Ainda bem que não temos cachorro senão eu ouviria seu latido abafado no meio da viajem, coitado.

Ok, malas prontas estamos prontos para partir e como de costume com muita antecedência (paranóica feminina) partimos.

Seria uma viajem de ônibus de Vitória (Espírito Santo) para Osasco (São Paulo), não só seria como foi, todavia a viagem deveria levar 14 horas e levou quase 17 (por mais que esse valor aumente toda vez que minha irmã conta).

O percurso foi tranqüilo. Ao meu lado minha irmã que incrivelmente falou pouco (e a amo muito por isso) e atrás de nós nossa mãe e uma senhora com seus quase 70 anos que não parava de falar de Jesus e de como ela saía para evangelizar e blá blá blá. A narrativa ganhava curvas interessantes quando ela começou a dizer que a maior bênção dela foi ter ganhado uma moto e que ela saia para o interior do estado sob duas rodas evangelizando com seus panfletinhos e a palavras de Jesus! Até aí era um saco tolerável, mas quando essa mulher inventou de ouvir música em seu mp4... Caralho! Que vontade de abrir a saída de emergência! Ela ouvia a música e balbuciava alguma cosa que não se parecia em nada com qualquer dialeto humano conhecido e o pior é que às vezes se empolgava e aumentava o volume da voz! O mundo está bem por eu não gostar de armas... Ah sem contar quando ela fazia uns movimentos que cutucavam meu acento e no meio do balbuciar surgia um “aleluia”, “a Deus”, “salvação”... Acho que se rola mesmo esta história de outra vida, voltarei como mulher e evangélica de sangue e carterinha...

As paradas eram curtas, mas muito boas para respirar fundo, contar até 10 quantas vezes desse tempo, ligar para avisar que estávamos bem e que chegaríamos no tempo previsto para respirar mais fundo ainda e retornar...

Ah! Um detalhe mais que importante: Não é que a digníssima da velha motoqueira do Senhor não roncava como o próprio Satanás! Caralho ! Que ódio! Nunca me senti tão orgulhoso em calar um instinto violento quanto dessa vez... Eu queria muito calar aquele ronco com minha meia ou com o lencinho podre do velho sentado ao lado no corredor. Acho que dormir ao lado do motor seria mais confortável e silencioso.

Tudo bem. Tudo bem.

Durante a noite (obviamente) mal dormida, reparei que o ônibus fazia algumas paradas não marcadas com certa freqüência e demorava horrores para voltar a mover... Acho que a bexiga daquele motorista era do tipo de um Kinder ovo: pequena, cheia de propaganda e sempre reservava uma surpresa, que nesse caso seria libera urina ou não libera urina. Surpresa! Nada de urina. Outra parada para conferir...

Pela manhã vi o nascer do sol muito bonito no meio da estrada. Isso me deixou mais feliz, mesmo por que indicava que faltava pouco para eu chegar a meu destino.

O tempo passa, o tempo voa e o trânsito de São Paulo continua como todos conhecem... Fui perguntar ao motorista quanto tempo demoraríamos para chegar uma vez que já havia passado 15 horas de viajem. A resposta dele foi a mais confortante possível: “Não sei”.

Como, por todos os duendezinhos bonitinhos de jardim a única pessoa que está no comando dessa viagem, a única pessoa com a mão no volante, a única pessoa com um crachá de motorista no peito naquele veículo não sabia me responder quanto tempo demoraria para fazer um percurso que esperava eu (ingênuo) que ele já tivesse feito 654 vezes naquela semana!??

Surpresa! Sem urina sem chegada. Filho da puta!

Tudo bem. Tudo bem.

A viajem passou. Atrasada, mas passou.

Não matei velha alguma.

Ainda há esperança de céu para mim...

No terminal rodoviário pego as malas, me certifico não ouvir nenhum latido abafado vindo do compartimento de cargas (nunca se sabe), respiro fundo, torço para não cruzar com a motoqueira do Senhor e o motorista da bexiga Kinder ovo nunca mais na minha vida, confiro se não me esqueci dentro do ônibus e parto para meu destino: Os braços e lábios de meu amor.

- Como foi a viajem?
- Ótima!

E um beijo faz parecer que cheguei depois de 5 minutos após ter embarcado...