- O mundo dele é o mesmo que o nosso, mas sua realidade é diferente – disse o advogado do estrangeiro detido – ele vê com os olhos de uma criança desbravadora, mas sem a sorte da criança de poder criar e recriar tudo a todo instante sem regras ou travas.
- A linguagem que entende se faz com as mãos! Bradou o delegado residente interessado em crucificar o estrangeiro segundo os costumes greco-cristão-indígenas do Brasil.
- Palavras importam pouco em certas situações – retrucou o advogado - E tem horas que saber “banheiro” em umas 2 ou 3 línguas diferentes pode ser muito útil... Você sabe?
- Não sei e não quero saber! Não pretendo invadir a pátria de ninguém!
- Ele não invadiu. Os documentos estão em ordem. Pondere suas palavras... Cuidado com as acusações vazias, senhor delegado.
- Já que estava arriscando usar minha língua... Sabe por que está nessa delegacia?
Ele não entendeu uma palavra sequer, mas pelo tom do delegado sabia que deveria responder que não com a cabeça para não ter de tentar falar palavra alguma.
- Você infringiu a lei do idioma interno e da posse nacional. Não pode vir aqui e amar nosso país mais que a gente! Não pode achar tudo lindo se já tem o seu país para amar! Não pode aprender palavras de nossa língua e arranhá-las com seu sotaque fortíssimo criando assim a interatividade cultural sem aviso prévio!
- É ou não é revoltante quando encontramos esse tipo de gente?! Puxou o saco, o assistente do delegado.
- Mas eu não saber de nada dessa lei...Tentou defender-se ingenuamente o estrangeiro.
- Você entende ou não minha língua, porra! Só responde quando quer?!
- É por que é uma lei interna – explicou o advogado.
- Ou seja, tem de ser de dentro do país para conhecer! Afirmou o assistente do delegado.
- Mas tem de ser de fora para infringir – Explicou novamente o advogado.
- Defesa nacional, bradou o delegado. Defesa nacional!
Que povo cruel - pensou o estrangeiro ao ser extraditado para seu país de origem – são tão ricos, não se dão conta e ainda reprovam quem tenta lhes mostrar isso.
O estrangeiro queria apenas um lugar para acrescentar em sua vida, mas não seria aqui. Nunca mais.
O Advogado foi destituído de seus poderes legais de defensor público por ter perdido um caso e por ter atendido um extrangeiro contra sua própria pátria mãe.
O Delegado foi homenageado internamente pelas forças competentes e se tornou um exmplo a seguir.
O Assistente do Delegado foi morto pelas forças competentes por ter sugerido que para casos como esse não se repetirem era necessário que o povo brasileiro amasse suas riquezas e vê-las como tal, e deste modo essa lei (que ele não encontrou em arquivo algum) não voltasse a ser violada.
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