sábado, 1 de janeiro de 2011

A MAIS DERRADEIRA DAS MANHÃS



Seus olhos se abriram sem vontade, doloridos, tristes. Sentou-se de lado na cama e torceu para que aquele dia fosse diferente. Não foi.

Depois de se levantar a arrastar como um zumbi até o banheiro, finalmente despertou após a assepsia matinal. Tomou um rápido e insosso café da manhã, pegou suas coisas e saiu.

Voltou. Ficou parado na soleira da porta por mais minutos do que gostaria. Foi até o quarto consumido pela culpa em uma busca desesperada por mudança.

Nada

Despediu-se com um beijo na testa pseudo-adormecida e um sussurrado “bom dia”. Sabia que aqueles lábios estavam esperando os seus, mas não era forte o suficiente para mentir para si. Não conseguiu evitar que uma lágrima sua molhasse aquele rosto. Sua última lembrança. Seu último contato.

Ele saiu de casa levando mais do que sua bolsa cotidiana de trabalho, mas deixou a maior parte de suas coisas, entretanto a maior e mais dolorosa das coisas que deixou, ficou sobre a mesa da cozinha junto de seu molho de chaves comuns.

Um anel dourado com um nome e uma data gravados em seu interior, eternizando o que não era mais eterno.

Ele fechou a porta atrás de si, deixou mais algumas de suas lágrimas naquela casa e nunca mais voltou.

Nenhum comentário: