quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

PANIS ET CIRCENCIS - CHUVA


A arma ainda fumegava naquela noite fria de garoa fina. O corpo estatelado no chão perdeu rapidamente seu calor, interrompendo o curso da enxurrada que descia o morro, vermelha a partir daquele ponto. Cinco tiros covardes a queima roupa e uma bala intacta cuidadosamente colocada na cena do crime. Na bala, o nome da vítima. Um capricho de quem quer ser lembrado. Instantes depois uma moto roncou alto denunciando a fuga e avisando aos curiosos que já podiam se aproximar e ver o novo assunto ainda fresco no chão. Uma mãe gritou desesperada, um pai emudeceu e uma irmã desmaiou. Não terá pão esta manhã, pois o padeiro não conseguiu chegar ao seu posto de trabalho.

As viaturas da polícia cercavam o trailer multicolorido enquanto o povo curioso empoleirava o terreno ocupado pelo circo esperando por informações sobre o crime. No barro, marcas de pisões profundos e uma linha riscada mostravam que alguém saiu correndo e fugiu de moto. Um policial saiu do trailer com um saquinho transparente de evidências. Todos puderam ver do que se tratava antes que ele guardasse numa caixa: uma bala de revólver. A última de um tambor, a única não disparada. Todos sabem que o espetáculo não pode parar, mas esta noite não terá palhaço algum no picadeiro, girando e caindo, pois o artista do riso já estava caído de bruços voltado para sua única máscara: um nariz vermelho.

Um comentário:

Rodrigo disse...

conto muito bem feito, escolheu as imagens corretas. Gostaria que tivesses tempo e inspiração para escrever mais por aqui, bom amigo...