terça-feira, 2 de setembro de 2008
A Lona de Retalhos – Pegadas Polaróid
Nunca fui a um circo - Nem mesmo quando eles vinham até mim.
Existem dois momentos em minha história que ilustram bem isso:
No primeiro eu devia ter uns 3 anos de idade. Brincava na rua rente ao portão de minha casa quando um homem apontou na esquina. Parecia o HOMEM DO SACO: carregava um trambolho preto embaixo de um dos braços e acredite se quiser embaixo do outro braço trazia um cavalo! Um cavalinho de madeira. Sabia – com 3 anos de idade – que era de madeira, mas aquilo me preencheu com um medo tamanho que corri pra barra da saia de minha avó que lavava roupa no fundo do quintal chorando e gritando:
- Me ajuda vó tem um moço com um cavalo de pau ali!
Ela riu e eis que nesse momento o maldito “moço” aparece no portão do meu quintal.
- Foto tia? Quer tirar foto do menino no cavalinho?
Eu logicamente não quis. Chorei horrores, mas minha mãe acordou com o barulho (meu choro), achou lindo o cavalinho e hoje tenho aquela foto em algum lugar. Que cara de poucos amigos era aquela...
Descobri depois que o tal “moço” acompanhava um circo pra tirar fotos das crianças... Um parasita.
E no segundo momento devia ter uns 10 ou 11 anos quando vi ao longe uma mulher gigante! Corri! Corri como nunca antes tinha corrido pra descobrir que ela não era gigante; tinha apenas pernas grandes demais e o povo dizia que suas pernas eram de pau! Não entendi por que ela parecia tão feliz assim tendo pernas de pau. Eu choraria todo dia e morreria de medo de quebrar ou encher de cupim.
Criei coragem e fui até ela – acompanhado por outras 17 crianças... eu era a última logicamente. Só então notei que ela tinha tinta na cara toda e ainda assim conseguia rir a toa.
Uma banda marcial veio logo atrás acompanhada por vários palhaços. Um deles entregou um cone pra ela... Ela até que era engraçada, mas assim que falou do tal circo que tava chegando eu entendi a armadilha: Te faziam confiar pra depois aparecer um homem segurando um trambolho e um cavalo de pau pra tirar foto sua obrigado. Não, obrigado. De novo não. Fiquei um mês inteiro em casa vendo televisão e desenhando. Ganhei gosto por desenho, mesmo não sendo animado.
Tróia perdeu seus dias por conta de um cavalo de madeira... Eu também.
Minha mente criativa me fez o favor de configurar em imagens uma série de incômodos e estampá-los em minha memória em forma de pesadelos.
O mais comum é também o menos sanguinolento e o que mais me incomoda. Nele eu sempre acordava num parque e depois cavalgava um dos cavalinhos que se soltou do carrossel. Quando eu olhava para trás via que o cavalinho não deixava pegadas, mas fotografias no chão, daí ele me derrubava e me dava um coice, me presenteando então com duas fotografias: a menina que eu amei a vida toda aos beijos com o cara que detesto pra sempre e a outra foto era um túmulo e alguém próximo de mim chorando ali; nunca via quem era, mas sabia que era próximo de mim. Coisa de sonho. Eu sempre chorava nessa parte e as fotos do caminho todo vêm voando na minha direção... Cenas horríveis!
Sempre acordo desesperado... Acordava.
Um dia saindo da faculdade encontrei com uma figura do meu passado. O Homem do Saco.
Difícil. Muito difícil não perder a cabeça...
Faz 6 anos que saí da cadeia e está quase tudo pronto pra realizar meu sonho: Abrir um circo!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Moço;
Bom blog.
Coloquei vc lá nos meus links
Thiara Pagani
Puxa vida!!!Muito bom esse texto...Me identifiquei em algumas partes, só não gostei lá essas coisas do final....Mais ri tanto lendo o restante que valeu a pena mesmo assim....
Parabéns branquelo!!! Vai ser talentoso assim lá longe...rsrs
ops, e não é que tá longe mesmo?kkkkkkk
beijos
tenho pra mim que todo o portador de albinismo tem o mesmo temor ...somos muito parecidos .os mesmos temores a mesma pele os mesmos cabelos !mas somos todos corajosos !
Postar um comentário