sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DESABAFO EM PRETO E BRANCO


DESABAFO EM PRETO E BRANCO

Rio de Janeiro 28 de outubro de 1995

Oscar,

Em primeiro lugar tenho de dizer o que é muito difícil para mim: sentar e escrever essas linhas. Conhece minha timidez e por isso nunca teria coragem de dizer certas coisas olhando em seus olhos... Minhas pernas não me manteriam de pé e nem seria possível ouvir o que eu dissesse de tão baixinho e pra dentro que seriam minhas palavras.

Sei também que pode parecer estranho para você receber uma carta minha já que nos vemos praticamente todos os dias, mas por favor, não pare de ler antes de ter chegado ao final. Peço também que me desculpe pelo modo que direi o que tenho a dizer... acho que não sei escrever cartas. Já recebi muitas, mas esta é a primeira que escrevo. Sinta-se orgulhoso por ter essa em mãos.

Aviso ainda que caligrafia nem ortografia são meus pontos fortes, então desculpe qualquer erro. Meus pontos fortes são natação e vôlei, maratona no salão de beleza e corrida de obstáculo nas lojas em promoção.

Bom, vou começar a falar do que interessa de verdade: Você (ou seria nós?)

Sempre fomos amigos e você sempre me protegeu das meninas invejosas da escola. Sempre me deu atenção e nunca disse que meu cabelo estava feio (mesmo quando eu tinha certeza que ele estava) e sempre me trazia chocolate ou alguma coisinha gostosa pra comer (mesmo sabendo que depois eu ficaria reclamando de virar uma baleia).

Gostamos das mesmas coisas (ou quase todas) e nos respeitamos sempre. Mesmo quando brigamos, tudo acaba bem no mesmo dia, já reparou?

Acho que minha vida mudou quando uma noite eu sonhei que você me dava um beijo na boca na frente de todo mundo lá na escola. Um escândalo de beijo foi aquele! Acordei precisando de um banho, sabia? Nunca tinha sentido isto antes... nesta intensidade. Foi naquele dia que eu disse que tava com dor de cabeça na aula de história. Eu não tava nada, é que não conseguia parar de pensar em você e de tanto te olhar sentado lá na frente acabei não prestando atenção na aula, e para não levar bronca na frente da galera eu disse aquilo: “Ai professor, minha cabeça tá explodindo”. Na verdade quem estava pra explodir era meu coração. Desse jeito. Da noite para o dia eu estava total e completamente querendo você pra mim.

Tem sido difíceis os meus dias por que estamos sempre perto e não consigo falar o que quero. Sempre arrumo motivos pra você me tocar. Eu tropeço, escorrego, finjo que me distraí pra você esbarrar em mim... um monte de coisinhas assim. Parece coisa de gente tarada, mas é tão bom... são segundos mágicos, por favor não pense que sou doente nem nada assim. Eu apenas usei as armas que me ocorriam. É como dizem: no amor e na guerra vale tudo!

Procurei um monte de filmes que tinham uma história parecida com a nossa. Tinham poucos, achei mais livros, mas sabe que não gosto de ler muito e filme é mais prático, né?

Torci pra que nenhuma menina se interessasse por você antes que eu pudesse me declarar senão ia morrer de ódio. Tenho ciúmes de você e não consigo disfarçar, desculpa, mas não briga comigo daquele jeito que eu não aguento e choro.

Deixando a safadeza de lado (ai meu Deus, nem sei se vou ter coragem de te entregar isso), quero que saiba de umas coisinhas: sabe que além da timidez sou também uma pessoa teimosa e insistente. Quando quero uma coisa eu vou atrás com unhas e dentes, nem pareço eu. Outra coisa... não gostei muito do seu perfume novo, muito doce, não combina com o homem grande que você é. Quem te deu ele? Torço que tenha sido sua mãe. As mães só sabem comprar presentes enquanto a gente é criança, depois disso elas não sabem que tem que se atualizar pra ver o que tá na moda.

Pra minha primeira carta essa até que tá ficando grande. Também, falando tanta besteira...

Ok, vamos ao que interessa de verdade (já devo ter falado/escrito isso um milhão de vezes. Eu me repito muito), mas não vou me importar em repetir esse finalzinho (por que gastei umas cinco folhas de rascunho até chegar numa versão que eu gostasse), então lá vai:

Sei que é meu amigo, mas eu quero mais do que isso. Sinto mais que amizade por você.

Eu gosto de tardes ensolaradas, mas também amo correr na chuva. Não quero ter de escolher... eu quero o sol e também quero a chuva... eu quero o arco-iris!

Sei que corro o risco de fazer nossa amizade se abalar com essa carta, eu sei bem disto, mas confio que não terminará se você não gostar do que ler, pois somos amigos de verdade, daqueles que vencem os problemas e depois dão risadas... por favor não dê risada de mim! Ria pra mim e comigo, mas não de mim. Pode parecer que estou sendo um tanto egoísta, mas não escolhi te amar e a única coisa que poderia me fazer sentir culpa é de ter escolhido assumir pra você que te amo. Se você quiser eu assumo essa culpa, pois é a mais completa verdade: Oscar eu te amo, hoje e sempre!

Com amor (agora assumido),
João Marcos.

PS: Gostei dessa história de carta. Ficou bonitinha, com PS e tudo que tem direito.
PS 2: te amo.

4 comentários:

Ana Marques disse...

Simplesmente lindo, ler seus textos me deixa muito feliz.

Parabens e obrigada por estar de volta.

beijoooos pra familia toda *-*

Rodrigo disse...

Já tinha lido e esquecido de comentar...
Esse texto é muito surpreendente... parabéns. Faça mais textos assim!

Flávio André Silva disse...

Na verdade até os tenho, mas é preciso editar antes de postar em qualquer lugar.

Em todo caso tem um em especial que faço questão de colocar aqui. Chama-se O PRIMEIRO CORTE.

Aguardem.

Rodrigo disse...

Então, teu poema tá lá. Confesso que foi dificil escolher UM. Acho que você vai ter que me deixar postar outros...

Abração.