sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Pela persiana 42

Ela passa como todos os dias em frente de sua sala no escritório de finanças. Será que sabe que ele não tem um apartamento a beira mar como os demais gerentes da empresa, ou que seu carro luxuoso veio de um leilão e que o está quase falindo manter? Creio que não.

No início do ano eles nem sabiam da existência um do outro e agora ficam aí brincando de “A Lolita e o Doutor”. Chega a ser engraçado o modo como agem. De fato, se eu já não a estivesse observando antes nem notaria o que ocorre entre ambos, assim como os demais funcionários da empresa.

Ambos casados. Ele com uma dentista bem sucedida, se é que se pode chamar de bem sucedido alguém que estudou anos a fio para enfiar a mão na boca dos outros e sentir toda sorte de hálitos existentes. Ela casada com um professor. Mais velho que ela uns quinze anos. Apesar de negar, não duvido que tenha sido seu professor e que ela o seduziu. Professor de química... Onde já se viu se apaixonar por um professor de química? Acho que é o tipo de cosa que os caras só estudam para poder se dar bem com as alunas que vão mal.

Ela entrou na empresa como estagiária há uns meses e subiu para secretária muto rápido em relação as últimas estagiárias que já vi subir... Creio que o que subiu mesmo foi aquela linda saia azul marinho...

Bom, eu nem preciso me esforçar para vigiá-los. Ela passa aqui perto sempre com um perfume muito delicioso que quase me puxa atrás dela. Esteja fazendo o que for, tenho de parar para vê-la passar e ficar imaginando se o cara sortudo ali já a conheceu a fundo.

Um dia o vi entregar um cartão romântico a ela. Sei que era romântico, pois ela fez cara de besta tentando disfarçar a própria cara de besta. Deve estar apaixonada por ele. Coitada. Se tivesse visto ele “brincando” com a moça da limpeza no fim de semana passado... O cara também não perdoa nem as 'tias” da limpeza... Espeto!

Ele tem sorte... Já eu... Eu? Eu não tenho nada nem ninguém para dividir o nada que tenho. O apartamento é alugado, os ternos de segunda mão, carro não tenho nem nunca vou ter, mas aí já é escolha pessoal e não incapacidade... tá bom, um pouco dos dois,mas é mais a falta de vontade!

Passo horas pensando como é que Deus pode dar tanta coisa para as pessoas que não sabem aproveitar... Será que ele não vê que tem gente que aproveitaria melhor a vida com melhores oportunidades? Não vou brigar com Deus, claro que não, Deus que me livre. Ele sabe o que faz...

Um comentário:

Rodrigo disse...

bem vindo de volta!