quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O TELEFONEMA


Alícia se via completamente absorvida pela ausência de seu amor. Nunca na vida se imaginou dependente de algo ou de alguém como estava dependente dele.

Havia feito de tudo para mostrar que estava a disposição, que seu coração estava completamente devotado e seu corpo completamente entregue, que suas crises de ciúmes não voltariam a se repetir. Tentou explicar através de cartas, e-mail e inúmeros telefonemas,

Ela mergulhou de forma verdadeira naquela relação até cair em si numa manhã chuvosa de primavera, a partir do qual, passou a esperar não seus beijos, mas apenas uma resposta a sua pergunta. Queria um ponto marco para se apoiar e re-erguer. Já ouviu aquele “não” inúmeras vezes, mas nenhum era tão importante. Na verdade eram verdadeiras punhaladas em seu coração, mas quem diria que as mesmas punhaladas serviriam um dia de chave libertadora.

Estava sem computador ou qualquer outro meio de comunicação que pudesse pensar a não ser um velho telefone de roleta. Velho e romântico. Era de seu avô e ainda funcionava, mas mantivera-se silencioso nos últimos quatro dias. Longos e tortuosos dias.

Suas forças foram quase quase que completamente drenadas pela ansiedade daquele telefonema.

Escreveu então uma longa carta desculpando-se por todas suas fraquezas, por sua covardia, pressa e ciúmes. Caprichou na letra e a colocou delicadamente no bolso frontal do macacão dele que usava para certificar-se que seria lida depois de pular da janela de encontro a eternidade.

Tão logo o concreto fino e velho da calçada se abriu em um beijo molhado, um telefone começou a tocar no 16º andar.

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